Assim que o placar na Câmara dos Deputados contabilizou os 342 votos necessários para abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, a transmissão da sessão foi interrompida no Vale do Anhangabaú. Desde o início da tarde de hoje (17), manifestantes contrários ao impeachment acompanhavam os trabalhos do Congresso, em telões instalados no centro da capital paulista.
O coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Josué Rocha, disse que os movimentos sociais continuarão protestando contra o impeachment. “Ainda não está perdido. Permaneceremos na rua, lutando pela democracia, contra o golpe, contra esta farsa. A partir de amanhã, as ruas do país serão tomadas pelo povo trabalhador”, enfatizou, ao discursar do palco que foi montado no local.
Os dois principais alvos dos próximos atos serão, segundo Rocha, o presidente da Câmara Eduardo Cunha, sobre quem ele vociferou “Esse corrupto e esse bandido que acha que pode conduzir um golpe nesse país”, e o vice-presidente, Michel Temer. “[A mensagem também é] contra esse conspirador Michel Temer que acha que pode usurpar uma presidenta que foi eleita por milhões de brasileiros”, acrescentou.
O presidente do PT, Rui Falcão, conclamou os militantes a continuarem se manifestando para pressionar o Senado a não cassar o mandato da presidenta. “Hoje, os donos do dinheiro, a mídia monopolizada, os traidores dos partidos que se dizem de centro, o conspirador geral da República, Michel Temer, e o corrupto Eduardo Cunha ganharam a primeira batalha. Mas não ganharam a guerra contra o povo”, disse.
Durante a tarde, os manifestantes favoráveis à permanência de Dilma encheram o calçadão. Muitos vestidos de vermelho e com bandeiras de movimentos sociais. Fogos de artifício e bandas de percussão animavam o ato. Porém, à medida que a derrota do governo foi se tornando iminente, os participantes foram deixando o local.
Quando foi anunciado o último voto necessário para instauração do processo, a maior parte dos manifestantes já havia deixado o Anhangabaú. A militante da Marcha Mundial das Mulheres Sarah de Roure era uma das poucas que permanecia no ato. Na opinião dela, a derrota de hoje está ligada ao crescimento das forças conservadoras na sociedade. “Desde as últimas eleições, os setores progressistas têm denunciado que a gente nunca teve um Congresso tão conservador como esse. Isso se refletiu ao longo dos últimos anos em vários momentos”, analisou.
Por isso, ela defende que os movimentos sociais se organizem para lutar contra esses grupos dentro e fora do Parlamento. “A luta que está sendo travada é contra o conservadorismo. Por isso, ela não é só dentro do Congresso, é também nas ruas”.
Dispersão
Na Linha 4 – Amarela do metrô foi montado um esquema de segurança para evitar que os manifestantes do centro se encontrassem com os que participavam do ato pró-impeachment na Avenida Paulista, na região central, próximo a zona oeste. Os passageiros deviam embarcar em vagões pré-determinados e dentro dos trens, guardas impediam os usuários de transitarem entre as composições.
Oposição
Assim que a votação terminou, Cunha, disse, em entrevista, que Dilma perdeu a condição de governar, e o país chegou ao fundo do poço. “O país passa por sérias dificuldades, a presidente perdeu as condições de governabilidade já faz tempo, perdeu todo e qualquer escrúpulo nesse feirão que foi feito para tentar comprar votos de toda a maneira e chegou ao fundo do poço. Agora, o Brasil precisa sair do fundo do poço. É preciso que a gente resolva politicamente essa situação o mais rápido possível”.
O vice Michel Temer, que acompanhou toda a votação do Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência, começou a receber visitas de apoiadores mesmo antes do voto de número 342. Sua assessoria disse que ele não ser pronunciaria hoje sobre o resultado da votação do pedido de abertura do processo de impeachment.