A professora do Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), doutora Denise Pereira Leme, criticou a proibição do uso de veículos de tração animal em Florianópolis.
“A meu ver foi um pouco precipitada e deveria ser revista”, opinou a veterinária, que questionou o destino que será dado aos cavalos. “Para aonde eles irão? Tirando Lages não existe nenhum hospital veterinário público, no litoral não tem”, ponderou a especialista em bem-estar animal durante seminário sobre a defesa da fauna, realizado pelo Ministério Público (MPSC) na sexta-feira (2), na capital.
Segundo Denise Leme, que estudou o perfil das pessoas que trabalham com veículos puxados por animais em Florianópolis, é um erro classificar o carroceiro como alguém que maltrata os animais. “Eles são extremamente desconfiados, em qualquer abordagem se sentiam invadidos, mas o que chamou mais a atenção foi a falta de informação absurda com relação aos maus tratos”, revelou a professora, que relatou casos de cavalos com ferimentos, magros, infestados de parasitas e presos. “De 2001 a 2010 foram registradas no município 172 denúncias de maus tratos”, afirmou Denise Leme.
A veterinária elogiou a iniciativa da Universidade de Santa Catarina (Udesc), campus de Lages. “Lá tem um trabalho bacana com cavalo e carroceiro, mas envolve assistência social e melhora da auto estima do carroceiro, tem apoio da prefeitura, da Udesc e também tem patrocínio”, declarou a professora da UFSC.
Denise Leme também citou o exemplo de Porto Alegre, que incentivou os carroceiros a buscarem outras alternativas de renda. “O programa propunha a entrega voluntária do animal, cerca de R$ 1,5 mil a R$ 2,2 mil por cavalo. Cadastraram cerca de 1,5 mil de 18 mil carroceiros, qualificaram um pouco mais de 600, que recebiam sexta básica e salário mínimo, no final 660 mudaram a forma de renda”, descreveu a especialista.
O outro lado
A diretora de Bem-Estar Animal da Secretaria Municipal de Saúde, Fabiana Bast, discordou da professora Denise Leme. “A lei que proíbe os carroceiros é mais do que necessária, já chegou tarde. (O carroceiro) não é apenas desinformado, ele não quer investir nada, nem dar água ao cavalo ou colocá-lo no pasto. A lei visa libertar esses cavalos. Eles impõem aos animais uma carga maior, chicoteiam, cutucam e quando o animal não serve mais, largam na rua, para morrer”, argumentou Fabiana Bast.
A servidora municipal reconheceu que a lei aprovada pelos vereadores manezinhos prevê uma estrutura atualmente inexistente. “A estrutura não existe, hoje temos cinco cavalos sob tutela, mas trocamos o lugar em que ficavam”, afirmou a diretora, que enfatizou a importância da adoção de animais. “Não adianta resgatar animais sem um programa de adoção, mas também não vamos investir nos animais e depois entregar para uma família que não quer nem que vejamos o local onde o animal vai ficar”, avisou Fabiana Bast.
Agência AL