Os bancos públicos não vão liderar um movimento de queda dos juros no mercado interno, afirmou hoje o presidente do Banco do Brasil (BB), Paulo Rogério Caffarelli, que sinalizou inclusive a recuperação da rentabilidade do sistema público frente aos bancos privados. Segundo ele, a estratégia do BB para 2017 é a de recuperar a lucratividade de sua carteira de crédito, o chamado spread bancário, que atualmente encontra-se cerca de 40% abaixo da obtida pelos bancos privados.
Em 2009, por exemplo, os bancos públicos assumiram o papel de pivôs do setor financeiro na redução de juros para o consumidor final, pessoa física, diante da queda que era observada na taxa básica de juros, a Selic. À época, os bancos privados não acompanharam o movimento de baixa, preferindo perder participação de mercado em troca da manutenção de margens de lucro mais altas.
Para Caffarelli, um dos principais obstáculos do BB em seu esforço recente para manter um nível de capital adequado para suas operações se deve à sua carteira de crédito menos lucrativa, decorrente da política anterior, “que se mostrou infrutífera” em forçar uma redução dos juros no mercado.
A estratégia anunciada agora pelo banco parece vir na contramão das medidas anunciadas pela equipe econômica do governo Temer, que na semana passada divulgou a meta de que os juros do cartão de crédito comecem a cair a partir de março de 2017. Hoje, o rotativo dos cartões encontra-se em patamares recordes, alcançando até 482,1% ao ano.
Baixa sustentada
“Essa redução [de juros] se dará de forma sustentada. Os bancos públicos e privados têm conversado com o governo, e as medidas anunciadas pela equipe econômica vão auxiliar nisso”, afirmou Caffarelli nesta terça-feira, durante café da manhã com jornalistas. Ele disse esperar que o Comitê de Política Monetária (Copom) reduza os juros básicos da economia já em sua primeira reunião de 2017, marcada para os dias 10 e 11 de janeiro.
De modo a garantir sua meta de recuperar a rentabilidade mesmo num cenário de queda dos juros, o Banco do Brasil pretende reforçar sua atuação no mercado de pessoas físicas, que possui spreads maiores e retornos mais robustos em termos de taxas de serviço, em especial no número crescente de operações por meio do celular.
O presidente do Banco do Brasil afirmou ainda que a instituição pretende, daqui por diante, recuperar patrimônio, de modo a atingir, até janeiro de 2019, um patamar de 9,5% em seu Índice de Basileia (conceito internacional que recomenda uma relação mínima de 8% entre o Capital Base e os riscos ponderados dos bancos). Isso quer dizer que a cada R$ 100 que o banco empresta, ele deve possui R$ 9,50 em patrimônio próprio.
Caffarelli negou, no entanto, que o BB planeje a venda de ativos. Os esforços, segundo ele, se concentrarão na redução de custos de captação, na reestruturação de processos e no corte em gastos de operação. “A rentabilidade de ativos vendidos hoje faz falta depois”, disse.
Até o fim do ano, por exemplo, o Banco do Brasil terá menos 9.400 funcionários, que aderiram a um programa de demissão voluntária, ao custo de R$ 1,4 bilhão em verbas rescisórias. A economia com a folha de pagamento, no entanto, será de R$ 3,4 bilhões ao ano, segundo o banco.