A iniciativa rachou a frente da oposição e se tornou alvo de críticas diversas. O deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, dirigente do Solidariedade, disse aos colegas que a nota jogou “Cunha nos braços do governo”. O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) ouviu de um colega do PT a mesma provocação.
O pedido de afastamento de Cunha também levantou questionamentos no DEM. “No meu partido também tivemos interpretações divergentes, mas temos que conviver com o debate interno”, disse o líder do DEM, Mendonça Filho. Segundo ele, a oposição não pode servir para “blindar Cunha”.
No PSDB a divergência sobre o modo como o líder do partido na Câmara, Carlos Sampaio (SP), lidou com o episódio se tornou pública. Dizem que ele foi inabilidoso e que acabou por “minar” a confiança que Cunha tinha na oposição. “No PSDB, Carlão é o Cristo”, comentou um colega do tucano.
Sampaio defendeu a elaboração da nota em que a oposição pediu que Cunha deixasse o cargo. Agora, está apanhando tanto dos que preferiam que os partidos que trabalham pelo impeachment poupassem o peemedebista, como dos que pediam uma ação mais “incisiva” das oposições em defesa da ética.
Um exemplo do impasse foi a declaração dada pelo líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB) nesta quarta. Segundo ele, Para Cunha Lima, o partido na Câmara “pecou por lentidão” ao, mesmo após divulgar nota em que pedia o afastamento do peemedebista, não ter desembarcado definitivamente do núcleo de apoio a Cunha.
“Era para ter reagido mais rapidamente mas ainda há tempo”, disse o senador tucano. “O PSDB da Câmara está errando”, completou. A fala foi uma referência às cobranças de que o PSDB defenda formalmente a abertura de um processo por quebra de decoro contra Cunha.
Procurado pela Folha, Sampaio disse que não entraria em polêmica com Cunha Lima, mas defendeu sua posição. “Quando havia apenas a suspeita, disse que era preciso dar o benefício da dúvida. Mas a evolução dos fatos mostrou que, o melhor, é que Cunha se afaste. Minha conduta foi consciente, jurídica e política”, afirmou.
Ele disse, no entanto, que sua bancada não será “linha auxiliar do PSOL”, partido que protagoniza a coleta de assinaturas pela abertura de processo contra Cunha no Conselho de Ética. “O PSOL é linha auxiliar do PT. Fiz uma aposta com eles: assinem o pedido de impeachment, que eu assino o pedido contra Cunha”, finalizou.
ABRAÇO DE AFOGADOS
Diante do impasse na sigla, Cunha Lima disse que procuraria o senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB, para pedir que ele convoque ainda esta semana uma reunião da Executiva Nacional para fechar posição.
“Não pode nem ficar na liderança da Câmara e nem na liderança do Senado. A executiva precisa se reunir para deliberar sobre isso”, afirmou. “O que não pode é uma ética seletiva. Se nós queremos ética, ela tem que ser para tudo e para todos”, concluiu Cunha Lima.
A Folha apurou que, a aliados, Aécio tem defendido que o partido mantenha a posição firmada na nota que defende a saída de Cunha da chefia da Câmara. O argumento do senador é de que os tucanos apresentaram ali o “seu limite” e que agora não podem se tornar “reféns” de um “leilão de apoio a Cunha”.
Por isso, pessoas próximas a ele começam a ponderar que, um “acordão” de Cunha com o governo pode dar sobrevida a Dilma, mas não trava a evolução da operação Lava Jato nem minimiza a deterioração da economia, fatores que Aécio julga determinantes para o desfecho do governo. Esse núcleo do partido acredita que há chance de, no fim, o acerto entre Cunha e o governo, de tornar “um abraço de afogados”.