A presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), Solange Beatriz, estima que em torno de 30% dos gastos em saúde privada no Brasil são desperdícios. De acordo com a entidade, as despesas assistenciais dos planos médico-hospitalares subiram mais que as receitas das operadoras, com expansão dos procedimentos e um número menor de consumidores, tanto em 2016 como em 2015, uma tendência que vem ocorrendo nos últimos dez anos.
Solange citou como exemplo desse desperdício o crescimento da quantidade de exames complementares por pessoa, como tomografia computadorizada (21%) e ressonância magnética (25,2%) entre 2015 e 2016. “Dentre as razões para esse salto, podem estar a má formação médica e incentivos financeiros de hospitais, médicos e laboratórios que, na maioria das vezes, são remunerados por procedimentos prescritos, o modelo conhecido como ‘fee for service’ [pagamento por procedimento]”, explicou.
O diretor executivo da FenaSaúde, José Cechin, concordou que os desperdícios existem e são importantes. Nos Estados Unidos, por exemplo, a perda mínima de desperdícios seria 20%, o que corresponderia a US$ 600 bilhões, em 2016. Se esse percentual prevalecesse no Brasil, o desperdício de 20% em uma despesa total de cerca de R$ 140 bilhões significaria R$ 28 bilhões. “É um volume expressivo”.
Cechin informou que na saúde suplementar se fazem no Brasil entre 150 e 160 procedimentos de ressonância magnética e tomografia computadorizada para cada mil pessoas, enquanto nos países ricos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a média são 60 exames desse tipo por mil pessoas.
Para o diretor da federação, a pergunta que deve ser feita é se “nós estamos fazendo o número necessário desses exames ou se estamos simplesmente fazendo com que os tomógrafos instalados sejam utilizados intensamente”.
A saúde suplementar tem hoje cerca de 70 milhões de beneficiários, sendo 47,3 milhões de assistência médica e 22,5 milhões de planos exclusivamente odontológicos.
Federação Nacional dos Médicos
O diretor da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Jorge Darze, qualificou de leviana a opinião da presidente da FenaSaúde. “Não tem parâmetro científico que possa documentar”. Darze reconheceu que a questão do ensino médico é um problema vigente no Brasil. “Ninguém discute”. A Fenam já se posicionou por diversas vezes contrária à abertura de novas escolas no país sem critérios que possam assegurar a qualidade desses novos profissionais médicos.
A entidade manifestou, por outro lado, que estabelecer conceito que os médicos estão levando alguma vantagem em procedimentos que não são necessários é uma atitude absolutamente “irresponsável, leviana e que não tem nenhuma base documental que possa justificar isso”. Darze disse que é complicado generalizar “porque, se existem maus profissionais na categoria médica, de forma geral, a grande maioria é séria e responsável”.