Agência Brasil
A Petrobrás marcou reuniões com as entidades sindicais para esta segunda-feira, “buscando entendimentos para o fechamento do acordo coletivo de trabalho” deste ano, segundo nota da empresa. A greve dos petroleiros já dura cerca de dez dias e está causando impacto estimado de 115 mil barris/dia na produção de petróleo.
De acordo com a Federação Única dos Petroleiros (FUP) para negociar com a categoria, a Petrobras encaminhou na sexta-feira (6) um documento à entidade e aos sindicatos filiados marcando o encontro para hoje, às 9h, no edifício-sede da empresa, no centro do Rio. A reunião foi confirmada pela empresa que, no entanto, não revelou com quem os grevistas vão se encontrar.
Segundo o diretor de Comunicação da FUP, Francisco José de Oliveira, a reunião deve ser com representantes das áreas envolvidas como recursos humanos, abastecimento e exploração. “Nossa pauta tem 13 itens e o décimo terceiro fala de manutenção dos direitos.”, disse Oliveira. “Não estamos discutindo índice de salários. Desde o iníci,o, a Petrobras não quis compreender que a Petrobras é maior do que tudo isso, do que inflação”, afirmou.
Oliveira acrescentou que, na carta encaminhada pela Petrobras para marcar a reunião, a empresa se dispõe a discutir a Pauta pelo Brasil, que representa todos os itens reivindicados pela FUP e pelos sindicatos filiados à entidade. Entre esses itens, estão a retirada do plano de desinvestimento da companhia, com a venda de ativos, e a manutenção de obras de expansão das atividades.
“A gente tem que fazer a diferença. A federação e seus sindicatos são pela Pauta pelo Brasil. O outro segmento [Federação Nacional dos Petroleiros- FNP] discute acordo, percentual. A nossa pauta não faz parte disso aí. Somente o décimo terceiro item da nossa Pauta pelo Brasil é que fala nas garantias dos trabalhadores e nenhum direito a menos”, explicou o sindicalista, mostrando a diferença no encaminhamento das reivindicações entre a FUP e a FNP. “A carta que a Petrobras mandou para gente é para discutir a Pauta pelo Brasil.”
Para o professor do Instituto de Economia (IE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Edmar de Almeida, pesquisador da área de energia, a greve dos petroleiros, embora tenha levado à queda na produção, confirmada pela Petrobras, ainda não teve impacto muito forte para a companhia, mas o quadro pode se tornar preocupante, se houver a greve se prolongar muito, sem negociações entre a empresa e a categoria. Segundo o professor, o estresse maior no momento é a falta de perspectiva de saída da greve diante da pauta politizada dos sindicatos.
“Particularmente, não acredito neste cenário. Há um descontentamento dos trabalhadores com a empresa, é evidente, mas também se sabe que a empresa está muito frágil economicamente para atender às reivindicações. Se esta greve não tiver longa duração, os prejuízos não serão muito grandes”, disse Almeida.
Na opinião de Edmar de Almeida, esse processo entre grevistas e empresa cria incerteza política para a atual diretoria implementar a opção da Petrobras de fazer os desinvestimentos. “O problema da empresa é econômico neste momento. Ela tem que rolar uma quantidade grande de dívida e precisa manter credibilidade no mercado. Este é o principal problema da empresa. Para manter a credibilidade, precisa manter o plano de desinvestimentos e a curva de produção. É um sinal muito negativo [para os investidores externos].”
No momento, conforme explicou, o mercado está acompanhando a evolução da greve. “Está todo mundo olhando como a diretoria e o governo vão fazer a negociação dessa greve. Qual vai ser a postura do governo e dos trabalhadores? Por enquanto, não se vê qualquer indicação. Estão todos dando um tempo para ver como as coisas evoluem”, disse o professor.
De acordo com o pesquisador, se a demora no término da greve gerar conflitos políticos, isso pode resultar em muitos danos para a empresa. “Seria um cenário de irresponsabilidade das partes, tanto dos trabalhadores quanto do próprio governo. O importante é manter a margem da negociação, ver o que o governo pode dar e o que os trabalhadores podem aceitar. Não pode ser muito diferente disso.”