Deutsche Welle – A força aérea do Paquistão afirmou nesta quarta-feira (27) que abateu duas aeronaves militares da Índia que haviam cruzado a fronteira entre os dois países na região da Caxemira e que capturou dois pilotos indianos, elevando ainda mais a tensão entre as duas potências nucleares. A Índia executara ataques aéreos em território do Paquistão na véspera.
O porta-voz das Forças Armadas do Paquistão, Major General Asif Ghafoor, disse que soldados capturaram dois pilotos de uma das aeronaves que caiu em solo paquistanês na Caxemira. A outra aeronave teria caído no lado indiano dessa região, que é disputada pelos dois países desde 1947.
Pouco depois, a Índia afirmou que “perdeu” um caça Mig-21 num combate com aeronaves paquistanesas na região indiana da Caxemira e que o piloto está desaparecido. O Ministério do Exterior da Índia acrescentou que uma aeronave paquistanesa também foi abatida, o que o Paquistão negou.
O tráfego aéreo civil foi interrompido nos aeroportos de Srinagar, Jammu e Leh, do lado indiano da região, pouco após a queda do jato, como medida preventiva. O Paquistão suspendeu todos os voos comerciais.
Ghafoor observou que os caças indianos abatidos violaram o espaço aéreo paquistanês depois de o Paquistão ter realizado bombardeios em território indiano.
O Ministério do Exterior paquistanês confirmou que seus caças atingiram território indiano, “sem causar perdas humanas ou materiais”, para demonstrar a capacidade de defesa do país. “A Força Aérea do Paquistão realizou bombardeios através da Linha de Controle (LoC, fronteira de facto na Caxemira), a partir do espaço aéreo paquistanês”, afirmou o ministério.
A chancelaria explicou “não se tratar de uma vingança” e que o ataque esteve dirigido contra “alvos não militares, evitando perdas humanas e efeitos colaterais”. “O único objetivo era demonstrar nosso direito, vontade e capacidade de autodefesa”, segundo a nota, que acusou a Índia de “cometer atos de terrorismo” no seu território.
O Paquistão afirmou não ter intenção de acirrar o conflito, mas que está “totalmente preparado para fazê-lo se for forçado a esse paradigma. Foi por isso que tomamos essas medidas como forma de claro alerta e em plena luz do dia”.
As tensões entre as potências nucleares aumentaram após um ataque suicida com um carro-bomba ter matado ao menos 40 membros da polícia paramilitar indiana na Caxemira em 14 de fevereiro. A autoria do ataque, o mais mortal do tipo desde o início da insurgência na Caxemira, em 1989, foi assumida pelo grupo Jaish-e-Mohammad (JeM).
A região da Caxemira é divida entre ambos o países, mas reivindicada tanto por Índia quanto Paquistão em sua totalidade.
Na terça-feira, a Índia executou ataques aéreos em território do Paquistão que tinham como alvo um campo de treinamento do JeM, movida por suspeitas de que a organização planejava ataques suicidas iminentes na Índia, e afirmou que inúmeros militantes foram mortos. O Paquistão confirmou o ataque, mas afirmou que não houve danos.
Moradores da região de fronteira na Caxemira, conhecida como Linha de Controle, relataram troca de tiros entre os dois lados durante a noite. Residentes tanto do lado paquistanês quanto do indiano fugiram em busca de proteção após os tiroteios, que começaram na terça-feira e se estenderam ao longo desta quarta-feira. Ao menos cinco soldados indianos ficaram feridos.
“Até o momento não há vítimas [civis], mas há pânico entre as pessoas”, disse Rahul Yadav, vice-comissário do distrito de Poonch. No lado paquistanês, autoridades relataram a morte de seis civis, incluindo crianças, na vila de Kotli, e afirmaram que várias pessoas ficaram feridas.
O Paquistão e a Índia já lutaram três guerras após a independência da Inglaterra em 1947 e quase entraram em um quarto conflito em 2002 após um ataque de militantes paquistaneses contra o Parlamento da Índia.
Reagindo à escalada do conflito, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, pediu aos ministros do Exterior de ambos os países que “pratiquem a contenção e evitem a escalada do conflito a qualquer custo”, disse em comunicado. “Também encorajo os dois ministros a priorizar a comunicação direta e evitar novas atividades militares”, afirmou.
China e União Europeia também pediram que novas atividades militares sejam evitadas.
No Afeganistão, o Talibã pediu o fim da violência e afirmou que uma escalada do conflito afetaria o processo de paz afegão.