Anne Caroline Anderson – Daniel Lima de Melo está se esforçando. Seus olhos estão atentos em busca de uma nova vida. Em situação de rua na Capital há quase três meses, Daniel encontrou em uma turma de Educação de Jovens , Adultos e Idosos (EJA) a possibilidade de trilhar um caminho diferente. Natural de Barra do Quaraí, Rio Grande do Sul, ele conta que ouvia falar que Florianópolis era uma terra de oportunidades e que por isso decidiu sair da cidade onde morava. “Quando eu cheguei em Florianópolis, procurei ajuda na secretaria de Assistência Social. Fui encaminhado para a passarela, onde vi um cartaz que anunciava a criação de uma turma da EJA. Estou adorando estudar. Não conheço ninguém aqui e não podia confiar em ninguém. Foi uma luz no fim do túnel’, declarou.
Antes, Daniel estava sempre de mãos vazias. Agora, com um caderno, caneta, lápis, borracha e o livro da EJA nos braços, ele pode correr atrás de um futuro melhor para si. Aos 31 anos, ele só pensa em seguir em frente. Atualmente, ele está aprendendo sobre metodologia de pesquisa. O tema escolhido reflete uma de suas paixões: a música. “Canto um pouco, mas eu gosto é de tocar violão. Gosto de rock”, conta. “. Na aula eu esqueço da minha realidade. Hoje não bebo e nem fumo mais. Por isso prefiro estudar do que ficar por aí, na praça, sem fazer nada. É uma vitória”, acrescenta.
Ele conta que vendeu balas para poder retirar uma nova certidão de nascimento. “A minha antiga estragou. Agora eu quero arrumar todos os documentos para conseguir um trabalho, continuar estudando e alugar uma casa. Tem que ter uma meta né. Ficar vagando por aí e reclamando das dificuldades não adianta nada”, afirmou, determinado.
As aulas da EJA para pessoas em situação de rua na Capital acontecem todas às segundas e terças-feiras, das 18h30 às 20h30, no Instituto Arco-Íris, localizado na região central da Capital. Todo o material escolar, lanche e itens de higiene são fornecidos pela Prefeitura de Florianópolis. O projeto é uma realização da Prefeitura de Florianópolis, por intermédio da Secretaria Municipal de Educação, com o apoio do Movimento da População de Rua de Santa Catarina, Instituto Arco-íris e Rede Rua.
“Para eles, tem sido muito significativo. É um resgate da autoestima deles e resignificação da vida. É uma porta de entrada para a garantia de direitos deles”, declarou o psicólogo do Instituto Arco-íris, Gabriel Amado.
“O lado positivo é que com os estudos eles estão resgatando o passado deles. Aqui não tem ninguém olhando torto para eles. Educação é algo que o ‘povo da rua’ também quer. É um resgate de valores”, finaliza o coordenador do movimento de População de Rua, André Shaffer.
Para o secretário de Educação de Florianópolis, Maurício Fernandes Pereira, a Prefeitura quer cada vez mais universalizar o ensino. “Fazendo isso, estaremos oferecendo condições para que as pessoas, como as de situação de rua, possam ter novos sonhos, novos caminhos para trilhar, uma nova razão para viver”.