Mariana Schreiber/Da BBC News Brasil, em Brasília – O ex-ministro da Educação e ex-senador Cristovam Buarque (PPS) acompanhou pela televisão os protestos que tomaram as ruas do país contra os cortes no orçamento das universidades realizado pelo governo de Jair Bolsonaro com um misto de entusiasmo e frustração. À BBC News Brasil, ele se disse “feliz com o despertar das universidades”, mas “triste” pela ausência da Educação Básica no centro das manifestações.
Enquanto estudantes protestavam em quase 200 cidades do país, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, justificava os cortes em audiência no Congresso devido à crise fiscal herdada do governo Dilma Rousseff e dizia que a prioridade da gestão Bolsonaro é ensino básico, fundamental e técnico.
A promessa, porém, não convence Cristovam Buarque, para quem a agenda do ministro Weintraub de combate ao “marxismo cultural” em escolas e universidades é de causar “arrepios”.
“Eu não vejo (o governo) com condições de fazer nada pela educação. Eu nunca pensei que um dia pudesse ter um governo que provocasse um retrocesso numa coisa tão atrasada como a educação brasileira. Mas o governo que está aí vai provocar um retrocesso, na educação de base e na universidade também”, critica.
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Cristovam Buarque, que foi ministro da Educação no primeiro ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003) e saiu após ser demitido por telefone, tem como principal agenda a defesa da federalização do ensino básico, hoje competência dos municípios.
Buarque, que não conseguiu renovar seu mandato de senador pelo Distrito Federal na eleição de 2018, conversou com a BBC News Brasil de Recife, sua cidade natal, onde passa alguns dias entre palestras e um retiro na praia para escrever. Pretende lançar dois livros, um com diagnósticos sobre os erros dos governos “democráticos progressistas” e outro sobre o quer para o futuro do país.
Diz que está “achando a vida ótima”, mas conta que sente saudade dos debates no Congresso. “Outro dia recebi novos parlamentares na minha casa, disse que me senti um passarinho com saudade da gaiola. Eu saí tão feliz da gaiola que era o Senado, mas, quando vejo essa crise, penso que podia estar falando lá”.