Vereadores da base do prefeito Ramon Wollinger (PSD) na Câmara de Biguaçu criticaram, durante a sessão desta terça-feira (29), a inércia da administração municipal para resolver várias solicitações da bancada e começaram a falar até em “trancar a pauta” de votação naquele Poder Legislativo. Se esse ato for levado adiante haverá paralisia das atividades em secretarias municipais, já que a Prefeitura precisa aprovar leis de remanejamento de valores para o funcionamento das pastas – principalmente neste fim de ano, com a arrecadação caindo ladeira abaixo e o gestor tendo que remanejar valores ínfimos para pagar até pequenas contas.
As críticas foram levantadas na tribuna pelo vereador João Luiz Luz (PP), que até o começo do ano era secretário da Receita no governo Ramon. Conforme o parlamentar, a gestão de Wollinger está deixando a desejar e não estaria dando a devida atenção aos parlamentares. Ele falou, por exemplo, do descaso da fiscalização do município com relação à denúncia de despejo de esgoto nas drenagens pluviais. Luz mostrou um vídeo enviado por um morador, de uma água escura correndo em uma galeria no bairro Mar das Pedras e sujando o mangue.
“Na semana passada eu falei aqui na tribuna sobre esse mesmo problema em outros locais da cidade, como nos córregos do Rio Caveiras e adjacentes, de ligações clandestinas de esgoto, e o munícipe viu, gravou o vídeo [no Mar das Pedras] e me mandou. […] Não podemos mais aceitar esse tipo de ação e muito menos aceitar essa a falta de fiscalização. A Vigilância Sanitária, através dos fiscais, tem que ir nas casas notificar e a Prefeitura tem que dar sustentabilidade àqueles que não têm condições de colocar fossa, sumidouro e clorador, mas não podemos mais conviver com esse tipo de poluição”, criticou.
João ainda pontuou que a Prefeitura não teria dado informações claras sobre os custos com o Centro de Castração Municipal. “No mês de fevereiro deste ano eu encaminhei um pedido de informações e recebi uma resposta que não atendeu o meu pedido. [O setor] encaminhou apenas os dados de cirurgia de 2018, sendo que eu pedi os custos operacionais, com pessoal, e todos os gastos desse setor que hoje não funciona no município. É um setor caro, com custas, apenas mandaram quantas castrações eram feitas, e então estou reiterando o pedido dessa vez à Secretaria de Administração”, disse.
Emendou também o parlamentar da base que é sentimento dos demais parlamentares a forma com que o Poder Legislativo vem sendo tratado pelo Executivo, com certo descaso. “Quando nós trouxemos à essa Casa indicações e leis, não somos nós que queremos trazer. Nós somos aqui representantes legais dos biguaçuenses, eleitos para isso, recebemos e trabalhamos para isso”, comentou Luiz Luz, ao falar sobre a lei n° 51/2019, que proíbe fogos de artifícios com estampido, aprovada na Câmara e que teria sido “engavetada” pelo prefeito. Disse que a lei foi um pedido de mães de pessoas autistas, mães de pessoas acamadas, pessoas com problemas auditivos, de cuidadores de animais de estimação. “Então, o pedido foi da comunidade. […] O Executivo tinha 15 dias para sancionar ou vetar a lei, mas não fez”, indignou-se João. “É ridículo para nós e merecemos respeito”, completou.
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Trancar a pauta
O vereador Pastor Nacet (DEM) solicitou um “aparte” na fala de João e sugeriu “trancar a pauta” de votação de projetos do Poder Executivo, até que o prefeito resolva atender às cobranças feitas pelos vereadores. “Se nós trancarmos tudo o que vier do Executivo, eles irão respeitar nós. Mas tudo o que vem de lá, senhor presidente, nós aprovamos. Nós trancamos aqui e acabou a brincadeira. Estão brincando com a gente. Então vamos estabelecer, o que vier para cá [de projetos], nós não vamos aprovar, fica engavetado aqui até segunda ordem, até [a administração municipal] nos atender, sugeriu Nacet.
O presidente da Câmara, Salmir da Silva (MDB), lamentou que o descaso da gestão de Wollinger com os vereadores chegue a esse ponto e alertou sobre consequências de um trancamento de pauta. “Eu entendo a indignação. Infelizmente eu acho a pior medida que podemos tomar, mas se a maioria achar que devemos adotá-la, assim o faremos. Por quê? [é a pior medida], pois estamos aqui para atender a demanda do município, e não a do prefeito. Mas se é só assim que eles passam a entender para que serve esta casa, podemos adotar”, avaliou.
Quem também comentou o caso foi o vereador Angelo Ramos Vieira, que é do mesmo partido do prefeito. “Eu até concordo com o presidente de não trancar [a pauta], mas podemos chamar o Executivo aqui e dizer: ‘olha, nós queremos que sejam cumpridos esses projetos do Legislativo, pois a gente votou e foi aprovado por pedidos da comunidade’. Os munícipes cobram da gente lá na rua. Então que a gente faça uma reunião para eles saberem tudo o que está sendo decidido aqui com essa intenção fazer, amigavelmente, que todos os projetos do Legislativo vão para frente”, disse.
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Mais críticas
Outro vereador da bancada que criticou a gestão de Ramon foi Manoel Airton Pereira, o “Bilico” (PP) – que tem seu filho Luan Pereira no cargo de secretário municipal de Agricultura e Pesca. Na tribuna da Câmara, ele pontuou várias solicitações feitas à Prefeitura e que não foram atendidas nos últimos meses. “No loteamento Ipacaraí, em Tijuquinhas, junto com a comunidade, eu venho há muito tempo pedindo melhorias naquelas ruas, principalmente na Travessa Maria Salomé Ventura, onde já foi feito medição e estudo para ser feita pavimentação ou calçamento, mas até agora eu não vejo iniciativa do Executivo Municipal, através da Secretaria de Planejamento, nesse sentido”, criticou.
“Também pedi que fossem feitos, nessa mesma referida rua, dois abrigos de ônibus principalmente para atender às crianças que esperam ônibus escolar nos dias de chuva. Só que até agora, também, eu não obtive resposta, inclusive entrei até com um requerimento nessa casa, e não sei se vão fazer ou não vão fazer. Quando viemos pedir aqui, não estamos pedindo para nós, mas sim para a comunidade que nos cobra”, reclamou Bilico.
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Quem também teceu críticas foi a vereadora Salete Cardoso (PL). Ela disse que há 15 anos solicita um terreno para construção de uma nova sede da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). Em dezembro de 2019, Wollinger completará cinco anos à frente da administração municipal de Biguaçu.
“Ontem inclusive o prefeito Ramon falou sobre um terreno para construção da nova sede da Apae. Graças a Deus a gente tem uma boa representatividade em Brasília, que pode buscar recursos para construir uma sede nova para a Apae, que está ‘esmagada’ naquela sede ali que não tem espaço. E mais um pedido, são 15 anos pedindo um terreno, inclusive vou lá fazer uma matéria disso. Agora estão lá colocando entulhos ao lado do Sesc, bonito e grandioso, e ao lado um depósito de lixo em um terreno que a Apae tanto pleiteia. Então fica também o meu repúdio e o meu pedido de apoio”, relatou a vereadora.
“Feliz daquele prefeito que consegue ouvir a voz dos vereadores e os seus pleitos, porque se pegar os anais dessa casa, vão ver que os vereadores lutam pelas suas comunidades”, falou Cardoso.
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Versão do prefeito
A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da Prefeitura através de e-mail (com cópia ao prefeito e à secretária de Governo, Karoline Wollinger) na manhã desta quarta-feira (30), solicitando um posicionamento do Poder Executivo do município com relação a essas críticas feitas pelos vereadores. No entanto, até o horário da publicação desta notícia ninguém respondeu ao e-mail. O Biguá News publicará a versão da Prefeitura caso ela venha a ser enviada.