Assim como naquela tarde de 13 de maio de 1926, quando foi aberta ao tráfego pela primeira vez, a Ponte Hercílio Luz voltou a ser o centro das atenções nesta segunda-feira, 30. O monumento mais emblemático de Santa Catarina está novamente acessível para cidadãos e visitantes, após 28 anos de interdição total. Obra de arquitetura única, a restauração do cartão-postal chegou ao ápice nesta manhã, com a reabertura da estrutura, quando uma multidão de cerca de 50 mil pessoas atravessou a ligação mais antiga entre Ilha e Continente.
Por volta das 11h, quando o acesso foi liberado, milhares de pessoas puderam ocupar a estrutura, em um momento emocionante. Anfitrião do ato de reabertura, o governador Carlos Moisés destaca que, mais do que ajudar na mobilidade urbana da região da Capital, o retorno da Hercílio Luz representa um aumento da autoestima da população do estado, que finalmente sentirá o benefício de uma obra que se arrastou por anos a fio.
Foto: Ricardo Wolffenbüttel / Secom
“Eu sinto um orgulho imenso de fazer essa reentrega de um monumento tão admirado não apenas no nosso estado, mas em todo o Brasil. Essa entrega não é uma obra deste Governo ou das gestões anteriores. Essa é uma obra do povo catarinense. Assim como eu, diversos moradores cresceram atravessando essa ponte, que representa Santa Catarina. O papel dessa estrutura vai além da mobilidade. A Hercílio Luz é um símbolo que hoje retorna à população e vai ajudar e muito nos deslocamentos entre a Ilha e o Continente”, destaca o governador.
Desde o início desta gestão, uma série de entraves burocráticos foram vencidos para entregar a Ponte Hercílio Luz dentro do prazo estabelecido pelo governador quando assumiu o Governo do Estado. Cerca de 30% da obra será executada em 15 meses, num ritmo mais rápido do que nos anos anteriores.
Embora já seja possível passear pela estrutura, o desenho original da Velha Senhora só retornará em sua totalidade em março de 2020, quando termina o contrato com a empresa portuguesa Teixeira Duarte, responsável pelos trabalhos. Até lá, serão retirados os suportes inferiores, que se transformarão em kits de transposição – pequenas pontes de até 12 metros a serem instaladas no interior do estado.
População acessando a Ponte pelo lado continental – Foto: Julio Cavalheiro / Secom
Para comemorar a reabertura, o Governo do Estado promove sete dias de eventos esportivos, gastronômicos e culturais. Durante a semana, pedestres e ciclistas poderão circular pelo monumento e aproveitar as atrações gratuitas. A cerimônia de abertura ainda teve o desfile de 172 veículos antigos, que passaram por cima da Ponte, puxados pelo Fusca do governador.
O projeto Viva a Ponte reúne uma intensa agenda cultural, esportiva e gastronômica na semana entre 30 de dezembro e 5 de janeiro. Há diversas atrações gratuitas, que podem ser acessadas neste link.
Também há esportes de aventura, como saltos de bungee jumping, tirolesa, pêndulo humano e rapel. A maioria está concentrada na cabeceira continental da ponte.
Foto: Ricardo Wolffenbüttel / Secom
Desafio para a engenharia
Secretário de Estado da Infraestrutura e Mobilidade, Carlos Hassler salienta que a restauração exigiu um empenho comparável ao de construir uma ponte do zero. Mais da metade das peças foram trocadas enquanto Hercílio Luz estava sustentada por estruturas metálicas que foram colocadas a partir de suportes vindos do mar.
“Essa obra só saiu do papel graças a um esforço coletivo. São muitas pessoas que ajudaram para que hoje nós pudéssemos fazer essa reabertura, que é praticamente um presente de Ano Novo para todos os catarinenses. A empresa Teixeira Duarte, desde que assumiu, fez um trabalho sério e comprometido. Os órgãos estaduais, em especial os funcionários da Secretaria da Infraestrutura e Mobilidade, também contribuíram muito para que chegássemos a esse ponto”, reforça o secretário.
Foto: CBMSC
Além da retirada das estruturas inferiores, até março deve ser instalada a iluminação cênica, que permitirá decorar a Hercílio Luz durante o período noturno e em ocasiões especiais. O edital para o serviço já foi lançado, com abertura das propostas no dia 13 de janeiro.
Com 821 metros de comprimento e inaugurada há 95 anos, a ponte da Capital é a única ainda de pé com o vão central suspenso em barras de olhal. Outras duas estruturas semelhantes foram construídas no estado norte-americano de Ohio, porém a Silver Bridge entrou em colapso e veio abaixo em 1967, e a Fort Steuben Bridge foi demolida em 2012 por conta da deterioração de sua estrutura. Durante o trabalho de restauração da Hercílio Luz, todas as barras de olhal e cabos pendurais foram trocados, o que exigiu um gigantesco esforço de engenharia.
Melhoria na mobilidade
Na visão do chefe da Casa Civil, Douglas Borba, a ponte terá um papel importante na mobilidade da Grande Florianópolis. Ele lembra que o Governo do Estado apoia a iniciativa da prefeitura de priorizar neste primeiro momento o transporte coletivo para depois avaliar a possibilidade de liberar o trânsito de veículos com dois passageiros ou mais.
Borba relembra ainda que, quando foi interditada pela primeira vez, em 1982, a ponte era responsável por 43% do tráfego entre Ilha e Continente, com 27,3 mil veículos por dia.
Foto: Ricardo Wolffenbüttel / Secom
“A Ponte Hercílio Luz ajudará a melhorar o trânsito. Com o passar do tempo, ela será uma alternativa cada vez mais utilizada, especialmente depois que terminarem os períodos de adaptação”, acredita Borba.
Também participaram da cerimônia a vice-governadora Daniela Reinehr, o secretário de Estado da Educação, Natalino Uggioni, o secretário de Estado da Saúde, Helton Zeferino, o secretário de Estado da Administração Prisional e Socieducativa, Leandro Lima, o secretário executivo de Comunicação, Ricardo Dias, a presidente da Santur, Flávia Didomenico, a presidente da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Ana Lúcia Coutinho, procuradora-geral do Estado, Célia da Cunha, o chefe da Defesa Civil, João Batista Cordeiro Júnior, a secretária executiva de Integridade e Governança, Naiara Augusto, o controlador-geral do Estado, Luiz Felipe Ferreira, além de ex-governadores e deputados estaduais.
Dia de sol e festa
Ao contrário do dia de sua inauguração em 1926, quando uma forte caiu sobre a Capital, a reabertura teve muito sol. Desde as 6h da manhã, curiosos chegavam à cabeceira insular para acompanhar a solenidade.
Foto: Ricardo Wolffenbüttel / Secom
Um dos mais animados era o zelador João Batista Fidelis, de 54 anos. Ele chegou à ponte pouco depois das 7h e relembrava da última vez que caminhou por ela, em 1989. Morador da Ilha, Fidelis conta que, quando criança, atravessava a Hercílio Luz toda semana para visitar a sua tia no Estreito.
“Essa reabertura é um sonho, do qual eu nunca desisti. Há muitos anos esperava por isso. Não podia perder por nada”, diz.
Operários de todo o Brasil
No decorrer dos últimos anos, milhares de trabalhadores se esforçaram para que o monumento pudesse, enfim, ser reaberto. Nesse último mês, aproximadamente 480 colaboradores trabalhavam ao mesmo tempo na Velha Senhora.
O governador Carlos Moisés ressalta o esmero e a dedicação desses profissionais para trazer de volta à população a Hercílio Luz. “São pessoas que em muitos casos ficaram longe de suas famílias, trabalharam de madrugada, para que hoje nós pudéssemos estar festejando essa reabertura. A todos os trabalhadores da Hercílio Luz, o nosso muito obrigado”, agradece Moisés.
Histórico resumido da ponte
➢ 1922 – Iniciam-se as obras para a construção da “Ponte Independência”, a primeira ligação entre a ilha e o continente.
➢ 1926 – É inaugurada a ponte Hercílio Luz. Ela ganhou este nome em homenagem ao então governador de Santa Catarina, Hercílio Luz, responsável pela construção da ponte.
➢ 1982 – Devido às condições precárias e à deterioração das barras de olhal, a Ponte Hercílio Luz foi interditada totalmente.
➢ 1988- A ponte é reaberta parcialmente (somente ao tráfego de pedestres, bicicletas, motos e veículos de tração animal).
➢ 1991 – INTERDIÇÃO TOTAL – A ponte é novamente interditada a qualquer tipo de tráfego. O piso asfáltico do vão central é retirado, aliviando 400 toneladas de peso. A interdição dura até 2019.