O Grupo Patense, que processa resíduos de origem animal para fabricação de rações, óleo para a indústria de higiene e limpeza e biocombustíveis, entrou em recuperação judicial, com dívidas de R$ 1,37 bilhão. Estão incluídos no processo 13 empresas do grupo com sede em Patos de Minas (MG) e nove produtores rurais da família do fundador, Clênio Gonçalves.
Em Santa Catarina, o grupo possui três unidades processadoras, uma em Itajaí, outra em Camboriú e mais uma em Biguaçu, a Farol Indústria e Comércio S.A, que atua na fabricação de ração a base de restos peixes. A unidade biguaçuense fica no bairro Areias de Cima.
O pedido de recuperação foi deferido pelo juiz José Humberto da Silveira, da 1ª Vara Cível da Comarca de Patos de Minas. O magistrado determinou a suspensão por 180 dias de todas as ações e execuções de dívidas contra o grupo. O advogado Daniel Thiago da Silva foi nomeado administrador judicial, com remuneração fixada em 0,7% do passivo da recuperação judicial, ou R$ 9,6 milhões. O banco de investimento americano Houlihan Lokey atua como assessor financeiro do Grupo Patense e o escritório TWK Advogados é o assessor jurídico.
Da dívida total, aproximadamente R$ 500 milhões referem-se a Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), emitidos pela Eco Securitizadora de Direitos Creditórios do Agronegócio e distribuídos pela XP Investimentos.
Cerca de R$ 400 milhões são dívidas com bancos. Outros R$ 400 milhões são dívidas com fornecedores. As dívidas trabalhistas giram em torno de R$ 2 milhões. Entre os maiores credores estão BTG Pactual, Banco Safra, Wealth High Governance (WHG), fundo Gama FIP Multiestratégia e Gomes da Costa.
Fundado em 1970, o Grupo Patense atua no processamento de resíduos de bovinos, suínos, aves e pescados para produção de ração animal, óleos e biocombustível. Farinhas de vísceras de aves, de peixes, de penas hidrolisadas, de sangue, sebo bovino, óleo de peixe e graxa branca suína fazem parte dos produtos.
O grupo possui 12 unidades industriais em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro e emprega 2.280 pessoas. Dono das marcas Farol Proteínas e Gorduras, Pets Mellon, Originalis Biotech, BioSea Produtos Agroecológicos e Zoomies Pet Care, o grupo fechou 2023 com receita de R$ 1,3 bilhão.
Gastos inesperados
No pedido de recuperação judicial, o Grupo Patense alegou gastos inesperados para consolidar aquisições e despesas crescentes com juros como principais fatores de drenagem do caixa e atrasos no pagamento de dívidas, obrigando grupo a buscar proteção judicial.
Nos últimos anos, o grupo quis consolidar a operação e fez dez aquisições entre 2021 e 2023, entre elas a Sebbo Passofundense Indústria e Comercio de Adubos e Fertilizantes e a Farol Indústria e Comércio. “O fato, no entanto, é que algumas das plantas adquiridas exigiram investimentos além do esperado, levando-as a não performar da maneira que se anunciava”, informou o grupo à justiça.
O grupo também relatou queda no preço das gorduras e proteínas em mais de 40% em 2023 e aumento de despesas fixas diárias, como os gastos com manutenção dos mais de 400 veículos usados para coleta de resíduos de abates de animais. “Em outras palavras, as plantas deficitárias, a alta alavancagem financeira e o custo das dívidas corroendo seus resultados operacionais levaram os requerentes a se depararem com uma situação insustentável de caixa”, informou o grupo à justiça.
Houve ainda aumento nas despesas financeiras com a alta dos juros. A taxa Selic passou de 2% para 13,75% no intervalo entre janeiro de 2020 e agosto de 2022. Novos empréstimos foram contraídos ou renegociados e o capital de giro foi consumido.
Em junho deste ano, o grupo pediu na justiça o bloqueio da execução de dívidas por 60 dias, enquanto buscava uma negociação extrajudicial para dívidas de R$ 2,17 bilhões. Mas as negociações com os credores fracassaram.
Uma fonte a par das negociações disse que o Grupo Patense tem um negócio robusto e com condições de dar lucro, havendo, por tanto, chances de uma recuperação judicial bem sucedida.
O processo, no entanto, deve ser complexo, devido ao número elevado de credores. São mais de mil credores que investiram nos CRAs da empresa, a maioria pessoas físicas. O grupo terá que realizar assembleias com os credores dos CRAs para definir o alongamento e pagamento das dívidas com esse grupo, para em uma segunda etapa discutir a proposta de recuperação judicial na assembleia geral de credores do grupo.
As informações são do Globo Rural.