Thiago Facchini/O Município – Estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental de escolas de Brusque, que têm entre 14 e 15 anos, foram contaminados durante viagem de final de ano a Governador Celso Ramos, na Grande Florianópolis, nos primeiros dias de novembro. Depois da viagem, foi identificado que a água do Águas de Palmas Resort e Hotel estava imprópria.
Participaram da viagem diversos alunos de escolas particulares de Brusque. O destino foi a praia de Palmas, que anualmente recebe estudantes prestes a encerrar o Ensino Fundamental. A agência Operação Turismo foi contratada e ficou responsável pela viagem. A empresa se manifestou. O pronunciamento consta no final da reportagem.
A viagem estava marcada para o dia 3 de novembro, um domingo. No dia 31, quinta-feira, uma mãe de estudante foi informada que outro grupo de alunos que havia se hospedado recentemente no Águas Palmas Resort e Hotel relatou casos de contaminação.
A mãe, que prefere não se identificar, disse à reportagem de O Município que, ao tomar conhecimento da situação, questionou sobre o assunto em um grupo entre pais e a agência Operação Turismo. O temor era que a filha ficasse doente durante a estadia no hotel.
A pergunta enviada pela mãe ao grupo foi apagada por um integrante da agência, que enviou uma mensagem a ela em conversa privada no WhatsApp. Ele justificou que a atitude foi tomada para não causar espanto aos demais pais enquanto a causa dos casos de contaminação no hotel era verificada.
Pais recebem vídeo
No dia 1º de novembro, os pais receberam um vídeo em que representantes do hotel e da agência comentam sobre o assunto, na tentativa de tranquilizá-los. Entretanto, o vídeo não chegou a todos os pais, que sequer tiveram conhecimento que os filhos iriam para o hotel com recentes casos de contaminação.
Conforme relato do representante do hotel no vídeo, inicialmente foi especulada a possibilidade de intoxicação alimentar, que foi descartada. O hotel foi fechado, isolado e passou por esterilização. Ainda na gravação, informaram que a água estava em “perfeitas condições”. Depois, o hotel foi reaberto e a viagem dos estudantes de Brusque aconteceu.
“Hoje, a maior hipótese é que isso tenha vindo de fora. Nunca vamos saber exatamente ‘na vírgula’ o que pode ter acontecido, mas tudo que era necessário para o hotel comprovar a responsabilidade que sempre teve, foi apresentado”, divulgou o representante da agência, em 1º de novembro.
Estudantes de Brusque contaminados
Os adolescentes embarcaram rumo a Governador Celso Ramos por volta do meio-dia em 3 de novembro. Os primeiros sintomas foram relatados por estudantes já no dia seguinte, 4 de novembro, segunda-feira. Alguns pais foram até o município buscar os filhos durante a madrugada. Todos retornaram de viagem na terça-feira, 5.
“Foram realizados todos os tipos de exames, pois lá brincaram com lama e tinha fezes de capivara e gato, mas não acusou nada. Depois de uma semana, recebemos a informação que a água estava imprópria para uso, estava contaminada”, comenta uma mãe de aluna.
Em 7 de novembro, a Diretoria de Vigilância Sanitária de Governador Celso Ramos encaminhou ao Águas de Palmas Hotel e Resort um ofício em que confirma que a água utilizada dentro do hotel estava imprópria para consumo. Na ocasião, uma reunião emergencial para discutir o assunto foi marcada para o dia 8.
“Em nenhum momento eles foram transparentes nas informações, nem a agência e nem o hotel”, acusa a mãe. Ela afirma ainda que a Operação Turismo não cogitou reagendar a viagem. “Eles garantiram para os pais que era seguro, mesmo tendo acontecido [contaminação] com outras turmas [anteriormente]”, completa.
O advogado Rodrigo Alves, representante jurídico da Operação Turismo, negou negligência por parte da agência. Ele esclareceu que a empresa vai buscar ressarcir os pais pela não conclusão da viagem dos estudantes e alega que a Operação Turismo manteve a agenda dos alunos em razão das autoridades terem constatado que não havia riscos aos futuros hóspedes.
Parte dos estudantes já retornou às aulas, após os sintomas causados pela contaminação. Outros ainda estão em repouso. Os pais pretendem apresentar uma denúncia ao Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC).
Operação Turismo se manifesta
Rodrigo Alves, da Operação Turismo, conversou por telefone com a reportagem de O Município e esclareceu os motivos que levaram a agência a manter a viagem. Ele também esclareceu as medidas que estão tomando para prestar auxílio aos pais. Confira, abaixo, a transcrição da manifestação da Operação Turismo na íntegra:
Quando houve esse alvoroço (os primeiros casos de contaminação), que não foi contemplado com alunos da Operação Turismo, mas, sim, de uma outra empresa, de Joinville, uma semana antes dos alunos sob responsabilidade da Operação Turismo frequentar o hotel, foi, sim, tido como conhecimento que havia uma situação no hotel em que alguns hóspedes haviam passado mal.
Neste momento, o Danilo, diretor da Operação Turismo, se deslocou imediatamente ao hotel, conversou com o gerente e há, inclusive, um vídeo dos dois juntos passando as instruções, dizendo que estavam seguros de levar os alunos para o hotel, pois a Vigilância Sanitária disse que estava tudo ok.
O hotel fez toda a sanitização e tarefas a mais do que deveria para salvaguardar a saúde e bem-estar de todos. Isso levou à segurança da Operação Turismo de manter a data e levar os alunos para o hotel.
Tínhamos conhecimento da situação e tínhamos respaldo das autoridades, que diziam que o hotel estava ok e que haviam sido realizadas todas as análises de água. No início, foi tratado como intoxicação alimentar, e depois foi visto que não era e que também não tinha nada a ver com abastecimento de água.
Diante de toda a situação que tínhamos em mãos, com documentos de órgãos públicos dizendo que estava tudo ok, a Operação Turismo manteve a agenda. Em nenhum momento houve negligência.
Existem vários grupos com os colégios. Hoje, conversei com o doutor Ricardo, que representa um dos colégios de Brusque. Disponibilizei todo o material. Estamos à disposição. Em nenhum momento deixamos de prestar qualquer assessoria para os pais dos alunos. Desde o início, demos respaldo e tornamos público o que chegou para nós.
Agora, na sexta ou no sábado, o técnico Márcio, de Governador Celso Ramos, emitiu uma nota oficial do município dizendo que foram encontradas irregularidades no abastecimento de água. Ou seja, a água que abastecia não só o hotel, mas toda a região, estava sendo entregue de forma contaminada.
Temos a ideia de apresentar para os pais em reunião nesta terça-feira, 12 de novembro, alternativas que seriam uma espécie de ressarcimento, pois eles (estudantes) acabaram não concluindo o período que pagaram. Faltou um terço [da viagem].
Vamos conversar com os grupos novamente. Vamos fazer uma nota, disponibilizando duas alternativas como forma de ressarcir por esta situação, mesmo sabendo que houve uma situação que não é de nossa responsabilidade, pois a água estava sendo fornecida de forma indevida ao hotel. Neste momento, nos vemos no direito e na obrigação de repassar essa situação para os pais e tentar ressarcir eles de alguma forma.
A reportagem de O Município entrou em contato com o Águas de Palmas Resort e Hotel. A recepção informou que o gerente estava de folga e poderia retornar nesta terça-feira, 12. A reportagem solicitou outro contato, mas não foi repassado. Desta forma, até o fechamento da reportagem, o hotel não se manifestou. O espaço segue aberto para pronunciamento.