José Carlos Sá – Normalmente esquecidas nos livros de história e dificilmente homenageadas dando nomes a ruas ou a estabelecimentos públicos, algumas das muitas mulheres anônimas que viveram no município de São José, na região metropolitana de Florianópolis, começam a ser descobertas, lembradas e valorizadas.
A ideia é antiga e perseguia as irmãs escritoras Giana Schmitt de Souza e Jane Maria de Souza Philippi há alguns anos. Na sexta-feira, 22, elas lançam o primeiro volume do livro “Algumas de tantas mulheres josefenses”, que já têm material pesquisado para, pelo menos, outros dois tomos.
Segundo Giana e Jane, “o livro é uma ideia de muitos anos que veio da constatação de que as mulheres estão excluídas dos livros de história de São José. Fizemos um trabalho de pesquisa no Arquivo Municipal e listamos os nomes das mulheres negras e pardas escravizadas. Na pesquisa em livros de genealogia e de história, listamos as primeiras imigrantes açorianas. Infelizmente, não temos os nomes das indígenas nem das sambaquianas (habitantes da era pré-histórica), mas temos suas marcas, como a região do casqueiro e a Ilha das Cascas, na Ponta de Baixo”.
Mulheres locais e imigrantes
“Algumas das tantas mulheres” resgatadas do esquecimento eram imigrantes alemãs pioneiras, vindas para a primeira colônia alemã do Estado de Santa Catarina, em São Pedro de Alcântara, na época pertencente ao município de São José. Antes das alemãs vieram as portuguesas do continente, do Arquipélago dos Açores e da Ilha da Madeira, trazendo a cultura própria e adaptando-se às condições climáticas e geográficas do novo país.
Giana explica que o livro contém pequenas biografias de 55 mulheres e são listadas uma grande quantidade de nomes, que são retirados dos únicos registros que ficaram sobre a passagem daquelas mulheres.
Dentre as figuras destacadas está Genoveva Inácia Joaquina e suas duas filhas, moradoras de Barreiros, que eram professoras de meninas em sua casa. As alunas se sentavam no chão e recebiam ensinamentos de como fiar, tecer, fazer o ponto de malha, bordados e outros trabalhos relacionados à costura. Havia ainda uma segunda turma de alfabetização e escrita.
A citação à dona Genoveva e suas filhas foi feita pelo naturalista, pesquisador e futuro barão von Langsdorff, que esteve na Ilha de Santa Catarina no ano de 1803, participando da primeira expedição russa de circunavegação. Enquanto o barco era consertado, o cientista explorou a região continental, recolhendo espécies da fauna e flora e anotando os usos e costumes de então. Ele visitou a casa da dona Genoveva e registrou o que viu em seu diário.
A última lavadeira da Carioca, dona Alcina Júlia da Conceição, que faleceu em fevereiro de 2022 aos 104 anos, também está no livro, juntamente com a professora Atalá Branco Freyesleben, que foi a primeira locutora de rádio em Santa Catarina.
É apresentada ainda a escritora e historiadora Wanda Ritta (1939-2011), que escreveu sobre São Pedro de Alcântara e sobre a Praia Comprida, ajudou a organizar o Arquivo Público Municipal de São José, ajudou a criar e a organizar o centro de documentação do Museu Oswaldo Rodrigues Cabral da UFSC, foi servidora do Ministério da Educação e Cultura e integrante da Academia São José de Letras.
Outra josefense desconhecida, mas ilustre, foi a oleira Zenir Josefa de Souza. Giana conta que dona Zenir enfrentou a discriminação para exercer a profissão, que até então era exercida exclusivamente por homens. Zenir colocava uma calça comprida e subia na roda para confeccionar suas peças cerâmicas.
Serviço
O quê: Lançamento do livro “Algumas de tantas mulheres de São José”,
de Giana Schmitt de Souza e Jane Maria de Souza Philippi
Quando: 22 de novembro de 2024, 19h
Onde: Museu Histórico Municipal “Gilberto Gerlach – Rua Gaspar das
Neves, 1755 – Centro Histórico de São José
Preço: R$ 40,00