*Alexandre Lenzi
O Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos (CIEnP), construído em Florianópolis com apoio do Governo do Estado, foi um dos três selecionados em todo o país pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para realizar testes sobre a eficácia e a segurança da fosfoetanolamina sintética no combate ao câncer.
Os testes em laboratórios são um passo importante para a regulamentação do produto, que ainda não pode ser comercializado. A iniciativa coloca Florianópolis, já conhecido polo tecnológico, em posição de destaque na área de inovação e de pesquisas farmacêuticas. É importante ressaltar que o laboratório fará exclusivamente testes com o produto. Não fabricará nem distribuirá o medicamento.
O laboratório catarinense terá a missão de fazer testes em animais com câncer. O trabalho começou agora em janeiro e tem duração prevista para até dois anos, mas os primeiros resultados devem ser informados ao ministério já em julho deste ano, afirma o diretor do CIEnP, pesquisador João Batista Calixto, professor aposentado de farmacologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “Nosso principal objetivo é verificar a segurança”, destaca Calixto.
Além do CIEnP, apenas outros dois laboratórios brasileiros foram selecionados pelo MCTI para participarem dos testes: o Laboratório de Avaliação e Síntese de Substâncias Bioativas (LassBio), do Rio de Janeiro, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM), de Fortaleza, ligado à Universidade Federal do Ceará (UFC). Neste último, em uma etapa mais avançada, devem ser realizados também testes com humanos.
A fosfoetanolamina
A fosfoetanolamina sintética foi desenvolvida pela equipe do pesquisador Gilberto Chierice, então no Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da Universidade de São Paulo (USP). Já aposentado, ele e também outros profissionais da área em diferentes localidades do país chegaram a distribuir gratuitamente o medicamento. Mas o produto ainda não tem registro junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que tem gerado discussões judiciais.
Em caso de resultados positivos nos testes encomendados pelo MCIT, o Ministério da Saúde e a Anvisa determinarão as diretrizes para a produção e distribuição regularizada do produto como medicamento.
O CIEnP
Localizado no Sapiens Parque, em Florianópolis, com área total de 5,3 mil metros quadrados, o CIEnP dispõe de laboratórios altamente equipados, auditório com capacidade para 120 pessoas e espaço disponível para incubação de startups (empresas iniciantes) atuantes no setor farmacêutico. O espaço foi criado para desenvolver pesquisas inovadoras no setor, contribuindo para criação de novas empresas e, ainda, para atração de laboratórios para o Estado.
Atualmente, conta com uma equipe de cerca de 40 pessoas, entre gestores, coordenadores, pesquisadores, técnicos e pessoal de apoio. Destes, 12 são pesquisadores doutores em áreas como farmacologia, química e biologia. “Somos uma empresa privada sem fins lucrativos, com o objetivo de desenvolver projetos de pesquisa para inovação tecnológica na área farmacêutica, seja para tratamento humano com medicamentos e cosméticos ou também para tratamento veterinário”, explica o diretor Calixto.
O CIEnP também teve apoio da Fundação Certi. Para construção do centro, a iniciativa contou com verbas do Governo do Estado, do Ministério da Saúde e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O prédio foi concluído em 2014 e inaugurado oficialmente no início de 2015.
Uma das principais estratégias de ação do CIEnP é desenvolver/melhorar produtos farmacêuticos, visando a transferência ao setor produtivo. Por meio da realização de pesquisas próprias, o centro auxilia a indústria farmacêutica no desenvolvimento de produtos em conformidade com os padrões de qualidade, confiabilidade e rastreabilidade requeridos pelos órgãos regulatórios nacionais e exigidos internacionalmente.
*Alexandre Lenzi é assessor de comunicação na Secom