Pesquisa online feita com 1.000 leitores do Biguá News entre os dias 23 e 28 de agosto, e divulgada na noite desta quarta-feira, revela que boa parte dos eleitores biguaçuenses sentem “saudades” dos ex-prefeitos Vilmar Astrogildo Tuta de Souza (MDB) e José Castelo Deschamps (PP). Ambos apareceram bem cotados em vários cenários testados, sobretudo naqueles com apenas quatro nomes. Mas a enquete revela com clareza que há espaço para os candidatos “outsiders” (aqueles fora do quadro de políticos tradicionais) e, com base no levantamento, pode-se dizer que os ventos sopram a favor do servidor público Alexandre Souza e do militar da reserva Heriberto Peres (veja mais abaixo).
Saudades do passado
Inicia-se a análise pelo saudosismo de parte do eleitorado por Tuta e Castelo – o que pode ser considerado normal, pois ambos foram prefeitos da cidade. Quando a pesquisa perguntou em quem você votaria para prefeito de Biguaçu, em um cenário aberto com 13 nomes de possíveis candidatos, Tuta apareceu em terceiro, com 12,4%, praticamente empatado com o segundo, Alexandre Souza, que obteve 12,5%. Na dianteira surgiu a vereadora Salete Cardoso (PL), com 14,3% (a análise das possibilidades dela será feita logo mais). Já Castelo apareceu em quarto, um pouco mais atrás, com 8,2%, liderando o segundo pelotão.
Mas, quando se diminui a quantidade de concorrentes para quatro, é que o saudosismo pelos ex-prefeitos revela-se mais forte. Vejamos que ambos aparecem competitivos em várias simulações.
Cenário 03 da pesquisa
- Tuta – 22,6%
- Alexandre Souza – 19,1%
- Marconi Kirch – 14,1%
- Auri Bitencourt – 8,1%
- Nenhum deles – 36,1%
Cenário 04 da pesquisa
- Tuta – 16,9%
- Salete Cardoso – 16,1%
- Heriberto Peres – 9,4%
- Angelo Vieira – 6,4%
- Nenhum deles – 51,2%
Cenário 09 da pesquisa
- Tuta – 16,4%
- Castelo – 15,5%
- Salete – 15,3%
- Peres – 8,3%
- Nenhum deles – 44,5%
Cenário 10 da pesquisa
- Tuta – 17,9%
- Alexandre – 15,1%
- Castelo – 14,9%
- Peres – 5,5%
- Nenhum deles – 46,6%
Os dois fora do jogo
Tuta e Castelo provavelmente não disputarão as eleições de 2020 (mas trabalharão nos bastidores). Tuta está inelegível até 2023, por ter sido condenado em segunda instância por improbidade administrativa e, nesse caso, ele teria a candidatura barrada pela Lei da Ficha Limpa. Já Castelo renunciou ao seu segundo mandato, em dezembro de 2014, alegando problemas de saúde. Nos bastidores, ele tem dito atualmente que não pretende concorrer a prefeito no ano que vem (essa informação vem de pessoas muito próximas a ele).
Salete e a rejeição
Salete foi a mais pontuada na lista com 13 nomes, com 14,3%, e nos testes com quatro nomes esteve em 1ª nos cenários 01, 06 e 08, em segunda e terceira nos quadros 04 e 09. Contudo, ela lidera a simulação de rejeição, com 31,6%. Ou seja, praticamente um terço do eleitorado. Com esse montante de gente afirmando que “não votaria de jeito nenhum”, dificilmente construirá base para liderar um grupo político musculoso nas eleições.
Mas, se nas próximas eleições houver apenas três candidatos a prefeito (como em 2016), é certo que onde Salete estiver tem mais chances de ganhar. O partido dela sempre faz boas votações para vereador (mais de dois mil votos na eleição passada). Em uma disputa polarizada, isso faz diferença. No entanto, o cenário aponta que o pleito de 2020 terá quatro ou cinco candidatos. Nesse caso, se o grupo de Salete estiver apoiando outro grupo (como candidata a vice ou apenas participando da coligação majoritária), ela pode ajudar esse mesmo grupo a vencer. Contudo, em uma disputa com vários nomes, uma candidatura própria poderá naufragar na rejeição da candidata.
Correndo por fora
Antes de falar dos outsiders e por que os ventos sopram a favor deles, uma breve parada para analisar as possibilidades daqueles que são pré-candidatos a prefeito declarados (Marconi Kirch, Angelo Ramos Vieira, Vilson Alves e Nei Cunha) e dos que não anunciaram pré-candidaturas (Auri Bitencourt, André Clementino, Salmir da Silva, Sandra Molinaro e Ademir Correa), mas que foram incluídos na pesquisa.
Esses quatro pré-candidatos – Marconi, Angelo, Vilson e Cunha – estão, neste momento, “correndo por fora” para tentar viabilizar seus nomes.
Marconi aparece em 6º na enquete, com 5,4%. Mas a rejeição é maior, 8,7%. Nos cenários com apenas quatro nomes, apareceu em 2º e 3º quando Tuta, Salete e Castelo não estavam inseridos nos testes. Vai precisar de mais musculatura política para liderar uma composição.
Angelo almeja ser candidato a prefeito, mas seu desempenho nas pesquisas (nessa online do Biguá News e nas pesquisas de campo dos partidos) ainda está muito abaixo do esperado para encabeçar uma chapa. Aqui apareceu cotado com 3,3%, com rejeição baixa, de 2,9%. Nos cenários com quatro nomes, o máximo que conseguiu foi ser o 3º, com 7,5%, atrás de Vilson (10,4%) e Peres (9,3%). Noutro que inclui Tuta, Salete e Peres, ficou em 4º, com 6,4%. Numa disputa com Salete, Peres e Sandra, ficou em 3º, com 7,4%. Ou seja, o teto da votação de Angelo é 7,5%. Para convencer outras células políticas que sua candidatura é viável, vai precisar crescer mais nas próximas pesquisas.
Vilson está com quadro parecido com o de Salete – tem mais que o dobro de rejeição (11,1%) do que menções de voto (5,1%). Nos cenários com apenas quatro nomes, lidera apertado com 10,4% com Peres logo atrás dele (9,3%), num quadro sem Tuta, Castelo, Salete e Alexandre. Numa disputa com Alexandre e Marconi, Vilson fica em 3º, com 10,4%. Para ser competitivo em 2020, Vilson vai ter que construir uma coligação com outros pretensos candidatos, como Salete, Marconi, Angelo, por exemplo. Ainda assim precisará remar muito, pois os ventos estarão contrários à ele e favoráveis aos outsiders.
Cunha, com 3%, dificilmente irá liderar uma chapa majoritária. Outros concorrentes – como mostra a pesquisa – estão bem à sua frente. Certamente pode compor um grupo político.
Auri Bitencourt, do PSOL, aparece com 4,3%. É o candidato dos partidos mais à esquerda. Assim como na eleição passada, quando fez cerca de 2% dos votos válidos, terá muitas dificuldades para fazer frente aos grupos políticos biguaçuenses (liderados por PP e MDB) e também aos outsiders que vêm por aí.
André Clementino tinha reeleição garantida a vereador em 2016. Foi de vice de Tuta e perdeu para Ramon. Fontes ligadas ao político apontam que a intenção dele em 2020 é retornar à Câmara Municipal. No levantamento somou 4%.
Salmir da Silva é o atual presidente da Câmara de Biguaçu. Em nenhum momento disse ser pré-candidato a prefeito. Incluso na pesquisa, apareceu com 3,8%. É o que tem a menor rejeição, 1,4%. Pode vir a construir uma candidatura pelo MDB, caso o partido cure suas feridas internas e se una novamente para as eleições do ano que vem. Seria também um bom vice, pois é do ramo empresarial e tem visão administrativa diferente dos políticos tradicionais.
Sandra Molinaro tentou implantar o Novo em Biguaçu, mas as regras do partido dificultam a instalação de diretórios em municípios menores (pois exige um número mínimo de filiados que contribuam mensalmente para as despesas partidárias). É empresária do setor de transportes e foi presidente da Acibig por dois mandatos. Tem nome ilibado e perfil administrativo. Mas para emplacar uma candidatura a prefeita precisará avançar nas atividades políticas. Surgiu com 2% na enquete.
Ademir Correa foi vereador de Biguaçu. Na pesquisa apareceu com 1,3% e rejeição de 4,5%. A análise é que ele tem poucas chances de encabeçar um projeto forte para prefeito.
Os outsiders
Agora a análise sobre os outsiders. O que mais se houve nas ruas de Biguaçu e nos comentários nas redes sociais é que o povo está cansado da hegemonia PP/MDB. Há pelo menos duas décadas, esses dois grupos dividiram o poder no município. O MDB de Tuta comandou a Prefeitura Municipal entre 2001 e 2008. Depois entrou o PP de Castelo, entre 2009 e 2014. Por fim, Ramon Wollinger (PSD) – que era vice de Castelo – assumiu, foi reeleito em 2016, e administra a cidade, com sua passagem pela cadeira de prefeito marcada para terminar em 31 de dezembro de 2020.
O povo quer mudanças. E neste cenário aqueles que vierem de fora dos atuais quadros políticos têm boas chances de ganhar as eleições do ano que vem. É nesse contexto, aliado ao fato de que Tuta e Castelo estarão fora da disputa e com Salete liderando a rejeição, que os outsiders aparecem forte. Os dois melhores pontuados nessa pesquisa do Biguá News foram Alexandre Souza e Heriberto Peres.
Alexandre Souza
É servidor público concursado na Prefeitura de Biguaçu, no cargo de escriturário, desde o ano de 2008. Filiou-se ao Podemos a convite de amigos para encabeçar uma chapa majoritária. Nessa enquete divulgada esta semana ele aparece em 2º lugar, com 12,5% – um décimo à frente de Tuta e 1,8 ponto percentual atrás de Salete. Tem índice de rejeição muito baixo, de 2%.
É jovem, com novas ideias, mas conhecedor da administração pública. Tem nome ilibado e presença na comunidade. É conhecido de muita gente, pois apresenta cerimoniais de eventos – tanto da prefeitura quanto de empresas e entidades.
Heriberto Peres
É militar da reserva. Coronel da Polícia Militar, foi comandante de diversos batalhões da PM no Estado, e também do Grupamento de Busca e Salvamento (GBS) do Corpo de Bombeiros. Atualmente preside a Grande Fraternidade Escoteira Impisa. É filiado ao partido Democracia Cristã, recém fundado em Biguaçu. Assim como Alexandre, Heriberto também foi convidado por amigos a ingressar num projeto para encabeçar chapa majoritária no pleito que se aproxima.
Nessa enquete divulgada esta semana ele aparece em 5º lugar, com 6,7% – atrás de Salete (que lidera a rejeição), Alexandre Souza, de Tuta (inelegível) e Castelo (tem dito que não concorrerá). A rejeição de Peres é baixa, 3,6%. Neste cenário acima, ao que parece, junto com o outro outsider Alexandre, Heriberto é nome forte para começar a aparecer na parte de cima das pesquisas nos próximos levantamentos.
Formação de grupos fortes
Mas não bastará ser outsider para vencer em Biguaçu. Eleição municipal, sobretudo neste município, é diferente da eleição nacional e estadual de 2018, quando a “Onda Bolsonaro” (lastreada num forte antipetismo) varreu grupos políticos tradicionais. Biguaçu, como já dito acima, tem dois grupos políticos fortes muito bem delineados (PP e MDB) que há 20 anos se alternam no poder. Sim, o povo está cansado disso, mas o candidato do “eu sozinho” – mesmo sendo outsider – tem poucas chances de vencer.
Esses dois grupos estabelecidos continuarão fortes para 2020, apesar de o PP estar rachado por uma agressiva disputa Vilson x Douglas no ano passado, e de o MDB também ter grandes divergências internas entre suas lideranças nos últimos três anos.
O PP está no governo há 11 anos. Tem o vice-prefeito, três vereadores e dezenas de cargos comissionados. Também é um partido composto, em sua maioria, por famílias tradicionais na cidade e enraizadas em diversos setores da sociedade. Ou seja, tem lastro. Caso faça uma coligação forte com PSD, PL e outros partidos – independente se terá o cabeça de chapa ou não – continuará “musculoso” para o ano que vem. Além disso, é o grupo que está no governo. A administração de Wollinger tem várias falhas, mas também apresentará trunfos em 2020, como obras em vias públicas, macrodrenagem II, hospital, maternidade (onde já nasceram mais de 1.000 bebes em um ano), e talvez o maior deles – a reforma da rua 13 de Maio com investimento de R$ 6 milhões que acontecerá em pleno ano da eleição (apesar de isso ser uma faca de dois gumes, pois poderá ser tachada de “obra eleitoreira”).
O MDB, por sua vez, tem em Tuta o seu “capitão”. Ele foi prefeito por dois mandatos e ainda hoje, depois de 11 anos que deixou a prefeitura, desperta saudade em boa parcela do eleitorado. Ele certamente será barrado pela Justiça Eleitoral se vier a registrar candidatura, pois está inelegível. Mas pela influência que exerce no partido, poderá alinhavar as costuras para que seu time se reorganize e busque um candidato com potencial – quem sabe até outro outsider, um empresário, talvez. Dentro do partido tem bons nomes que podem surgir nesse contexto. Com o partido reorganizado, unido novamente, e com a tradição emedebista de ser forte nas campanhas municipais em Biguaçu, esse grupo não poderá ser descartado. Só para lembrar, nas três últimas eleições municipais o MDB somou entre 12 mil a 15 mil votos. É um montante significativo de gente.
Dessa forma, a análise do Biguá News é que os ventos estão soprando para os outsiders, mas eles precisarão formar grupos fortes, e não é só grupo de pessoas com ideias de mudança, mas sim grupos políticos, pois eleição municipal tem vários ingredientes que dificultam o avanço do candidato do “eu sozinho”. Agora, se Alexandre e Peres construírem alianças políticas fortes, certamente estarão no topo das pesquisas no ano que vem.
Outros outsiders
Outros outsiders poderão surgir daqui até o começo da campanha, lá por julho de 2020. Mas precisarão começar a fazer política agora para chegar nas convenções partidárias com chances de encabeçar chapas.
Pelo menos dois nomes que ainda não foram testados em pesquisas eleitorais recentes almejam ser candidato a prefeito.
Um deles é o do empresário John Kennedy, filiado ao PP. Ele foi secretário de Fazenda na época em que Castelo foi prefeito e tem amplo conhecimento da administração pública. Dentro do partido se fala no nome dele para concorrer ao cargo.
O outro é o do secretário de Saúde, Daniel César da Luz. Ele é advogado, foi procurador jurídico do município na gestão de Castelo e secretário de Administração do prefeito Ramon. Daniel ainda não diz abertamente que é pré-candidato a prefeito, mas em seu círculo de amizade essa possibilidade é ventilada constantemente.