Roelton Maciel / DC:
A cadeira de prefeito terá em 2017 o mesmo dono em apenas 66 municípios catarinenses, podendo chegar a 68 após o segundo turno, que será disputado em Joinville e Blumenau. É a menor marca da história em Santa Catarina. Quase metade dos prefeitos que tentou renovar o mandato no Estado terá de recolher os pertences e dar lugar a um novo gestor a partir de janeiro.
A corrida eleitoral em Santa Catarina teve 125 candidatos à reeleição – 53,66% tiveram sucesso. O número poderia ser maior se outros 86 prefeitos de primeiro mandato não tivessem desistido de sair em campanha. Levantamento da Federação Catarinense dos Municípios (Fecam) revela que a rejeição aos prefeitos se mostrou maior na votação de 2 de outubro se comparada com as três eleições municipais anteriores.
Em 2012, 95 prefeitos foram reeleitos, representando 33% do total de candidatos vitoriosos. Considerando todos os municípios catarinenses, as 66 reeleições do último dia 2 representam 22,6%. Entre os prefeitos que nem disputaram a última eleição, a desistência mais repercutida partiu de Cesar Souza Junior (PSD), atual chefe do Executivo de Florianópolis.
Ao anunciar que abriria mão da campanha, ele mencionou a impossibilidade de conciliar a agenda de candidato com a de prefeito em meio à crise. Desistências antecipadas também foram anunciadas pelos prefeitos de Jaraguá do Sul e Lages. Na lista dos que tentaram a reeleição em vão, a derrota mais sentida atingiu Márcio Búrigo (PP), que concentrou apenas 11,91% dos votos em Criciúma e viu o adversário Clésio Salvaro (PSDB) arrebanhar 75,87% dos votos válidos.
Em Tubarão, o prefeito João Olavio Falchetti (PT) amargou o terceiro lugar (20,32% dos votos), ficando atrás de Carlos Stüpp (27,13%, PSDB) e Joares Ponticelli (45,23%, PP).
Mestre em gestão de políticas públicas e doutora em direito, a professora da Univali Queila Martins avalia que a taxa pouco expressiva de reeleição é um recado claro das urnas.
– É um reflexo não só da crise econômica, mas também porque o povo quer mudança. As pessoas estão cansadas da política tradicional, dos arranjos, da corrupção. Infelizmente, a imagem da política suja é real – destaca a professora.
Outro reflexo, aponta Queila, foi o de candidatos apoiados pelos atuais prefeitos que enfrentaram resistência porque representavam a continuidade. Na avaliação da professora, a leitura de cenário explica por que muito prefeitos abriram mão de concorrer:
– Sem muito dinheiro no bolso para campanha e sabendo que a tentativa poderia dar em nada, acabaram desistindo.
Crise é um dos fatores de desestímulo
Na avaliação da presidente da Federação Catarinense dos Municípios (Fecam) e prefeita de Camboriú, Luzia Lourdes Coppi Mathias (PSDB), a crise econômica é o principal motivo por trás da rejeição nas urnas e do grande índice de desistências à reeleição.
– Nós, prefeitos de agora, somos vítimas da maior crise econômica, financeira e política dos últimos anos. Sofremos com uma queda de arrecadação violenta, além de que os governos estadual e federal não repassam nem sequer as verbas para os programas criados por eles – critica.
Para Luzia, imposições da Lei de Responsabilidade Fiscal e o comprometimento dos orçamentos municipais com as folhas de pagamento desanimaram os prefeitos:
– Foi um desânimo que deu nos prefeitos. A Lei da Responsabilidade Fiscal é muito severa. Mesmo com o arrocho e sem horas extras, você não consegue manter a folha no limite. Muitos vão terminar o mandato e, com certeza, sair da vida pública.
Índice no Brasil também é o mais baixo da história
A taxa nacional de reeleição de prefeitos neste ano foi a menor da história do país: 48%. Pela primeira vez, menos da metade dos prefeitos que concorreram novamente ao cargo tiveram sucesso. A Constituição foi alterada para permitir a reeleição em 1997.
Em 2000 e em 2004, a taxa de sucesso dos candidatos à reeleição ficou por volta de 58%, segundo a Confederação Nacional dos Municípios. Esse número explodiu em 2008, em meio a um crescimento recorde da arrecadação municipal no Brasil – o aumento dos orçamentos foi de 15% em relação ao ano anterior, segundo o Tesouro Nacional. Naquele ano, 66% dos candidatos ao segundo mandato de prefeito tiveram o aval dos eleitores para a recondução.