O processo de certificação participativa para uso e conservação da floresta no sistema itinerante, desenvolvido pela Associação Valor da Roça de Biguaçu, é um dos vencedores do Prêmio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de Boas Práticas para Sistemas Agrícolas Tradicionais. A premiação de R$ 50 mil será entregue em Brasília, nesta segunda-feira (18). Das 63 práticas submetidas à avaliação da comissão julgadora, o processo de certificação coletiva de Biguaçu obteve o sétimo lugar.
A comunidade rural de Biguaçu desenvolve há gerações um sistema de cultivo caracterizado por períodos de alternância entre lavouras anuais e a floresta nativa, sem revolvimento do solo e com um manejo especial. Nesse sistema eles plantam principalmente mandioca, banana, feijão e milho, sem uso de agroquímicos. A prática tem permitido a manutenção da floresta, da paisagem e a conservação da biodiversidade, evitando a conversão definitiva da terra para uso diverso, como por exemplo, formação de pastagem ou plantio de florestas exóticas.
O projeto conta com apoio da Prefeitura de Biguaçu – através da Fundação Municipal de Meio Ambiente (Famabi) – e da Secretaria Municipal de Agricultura, Pesca e Aquicultura, além da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA).
Sustentabilidade e tradição
De modo geral, esse sistema de uso da terra tradicionalmente praticado pelos agricultores de Biguaçu, caracteriza-se pela supressão de pequena gleba de vegetação para o cultivo de lavouras anuais por curto período de tempo. A lenha retirada é usada na produção de carvão vegetal. Após a colheita da lavoura, a floresta volta a se regenerar. Outra importante característica é o fato de que já entre as plantas de ciclo anual é realizada a condução da regeneração natural. Ou seja, ao mesmo tempo que cultivam, os agricultores manejam espécies arbóreas regenerantes, o que caracteriza um tipo peculiar de Sistema Agroflorestal. Isso permite a rápida regeneração do fragmento florestal após a colheita da lavoura anual.
Outro aspecto fundamental dessa prática é o caráter social. Ao respeitar o conhecimento empírico dos agricultores locais, a instituições governamentais preservam um saber fazer histórico. Diversos estudos nacionais e internacionais têm apontado os benefícios socioecológicos desse sistema e registram importantes prejuízos nas regiões onde ele tem sido abandonado, sobretudo a perda da biodiversidade.
Desde 2009 a Epagri e as instituições parcerias desenvolvem projetos com esses agricultores, que formaram, em 2013, a Associação Valor da Roça. A entidade possui um Caderno de Normas que é seguido rigidamente pelos associados. Uma das principais regras estipuladas é que a vegetação suprimida para a roça volte a se regenerar após o cultivo. Para garantir que as regras sejam cumpridas, uma comissão de associados faz vistorias nas áreas em regeneração e, assim, certifica de forma participativa o cumprimento do compromisso assumido.
Sobre o prêmio
O Prêmio BNDES de Boas Práticas para Sistemas Agrícolas Tradicionais é uma iniciativa do BNDES em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa/MAPA), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan/MinC) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO/ONU). O objetivo é reconhecer boas práticas ligadas à salvaguarda e conservação dinâmica de bens culturais e imateriais associados à agrobiodiversidade e à sociobiodiversidade presentes nos Sistemas Agrícolas Tradicionais no Brasil.
*As informações são da Epagri e da assessoria de comunicação da Prefeitura.