Milhares de moradores de Biguaçu estão à espera de exames médicos na rede municipal de saúde e, em alguns casos, a demora se estende por anos. De acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde, somente a fila para endoscopia digestiva chega a 1.841 pacientes. Os dados – que são públicos – foram consultados por Biguá News na tarde desta sexta-feira (27). A maior parte dos que aguardam serem chamados para realizar esse procedimento fizeram o pedido ainda em 2017. Centenas de outros solicitaram em 2018. A lista é formada por classificação de risco. A posição e a previsão de atendimento podem ser alteradas de acordo com a gravidade do paciente ou por decisão judicial.
Uma fonte informou à reportagem que na rede pública municipal não há esse tipo de serviço disponível. Por isso, é preciso contratar os exames junto a laboratórios de imagem na rede privada. Na data de 18 de junho de 2019, foi homologado pela Prefeitura Municipal um termo de inexigibilidade de licitação para contratação de vários tipos de exames de imagem – entre eles os de endoscopia. Duas clínicas foram habilitadas para fazer esses exames do sistema gastro intestinal – uma de Florianópolis e outra de São José. Os contratos já foram assinados.
Pacientes que esperam por outros tipos de exames e consultas especializadas também relatam demora de anos para realizá-los.
Caio Bossolan Alves Coutinho, por exemplo, precisa ser analisado por um médico otorrino por estar com um lado do nariz todo obstruído e o outro se fechando. Ele não consegue respirar direito. Há três anos, Caio foi encaminhado pela médica do posto de saúde do bairro Vendaval para que a regulação municipal o enviasse para um especialista, mas, até agora, nada foi feito.
“Depois de anos retornei ao posto de saúde e fiz uma nova consulta por indicação da própria Secretaria de Saúde. A médica voltou a colocar na solicitação de encaminhamento que estou com apneia, labirintite, aumento de pressão, e que preciso urgente de uma cirurgia. Mas lá na regulação, de novo, me colocaram como pouco urgente. Não sei quantas mil pessoas na minha frente. Ou seja, eu vou morrer e não vou conseguir fazer essa consulta”, reclamou.
Quem também precisa passar por um otorrino é Maicon Lemos. Ele informou que precisa fazer a retirada das amídalas e adenoide. “Nem isso consegui, ainda os exames”, comenta. Segundo ele, a resposta da Secretaria de Saúde é que existe muita gente na fila. Reclama ainda de ter que ir de madrugada pegar ficha para consulta. “E quando consegue ficha”, lastimou.
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Outro relato de demora em consulta é do leitor Guilherme – cujo sobrenome iremos preservar, a pedido. Ele contou que a esposa dele está há pelo menos dois anos esperando por uma consulta com oftalmologista, para poder pegar os medicamentos para lúpus gratuitamente. “Até o momento nada. Gastamos mais de R$ 300 por mês em remédios pelo simples fato de ter que esperar todo esse tempo para ser chamado ao oftalmo. No posto mandam aguardar, dizem que é demorado mesmo. Detalhe, a médica do hospital que pediu o exame colocou a anotação urgente na folha, imagina se não fosse urgente”, diz.
Quem também reclama de demora em exames é Jaqueline Maurina. Ela diz que esperou anos para fazer uma mamografia e acabou pagando em uma clínica particular. “Mas ainda tenho ultrassom do ombro e pulso na fila de espera desde o ano de 2016”, relata.
Versão do município
A reportagem solicitou posicionamento do secretário de Saúde, Daniel César da Luz. Este informou que realmente essa é a fila que ele encontrou represada quando assumiu a pasta, no 1º semestre deste ano, “e que estamos prestes de diluir com a vinda do mutirão na segunda quinzena de outubro, e reabertura do serviço na nossa policlínica municipal fechada desde 2014“.
“Estamos fazendo o atendimento, mas não atende a grande demanda, por isso a necessidade do mutirão. Infelizmente quando cheguei não havia a realização dos exames há quase seis meses. Mas voltamos a atender com minha chegada e agora em outubro acredito que diminuiremos ou quase zeremos a fila“, argumentou o secretário.