Da Editoria – A exoneração ‘por atacado’ de todo o secretariado da Prefeitura de Biguaçu e de mais de 100 cargos comissionados de 2º e 3º escalões, publicado no Diário Oficial dos Municípios desta segunda-feira (6), pegou todo mundo de surpresa, inclusive dezenas dos exonerados. Alguns souberam, inclusive, pela imprensa. Até agora (23h), há um silêncio sepulcral por parte do Poder Executivo municipal sobre essa tesourada do prefeito Ramon Wollinger (PSD). Qual seria o motivo de medida tão drástica?
Começa a aparecer nos bastidores da política biguaçuense a suspeita de que tal corte linear nos cargos seria uma estratégia para beneficiar o agora ex-secretário de Saúde Daniel César da Luz. Este é um “braço direito” de Wollinger. Foi advogado de Ramon nas eleições de 2016 e venceu todos os processos. Assumiu a Secretaria de Administração e depois a complicada pasta da Saúde.
Ocorre que, há cerca de um mês, o PSD – partido de Wollinger – anunciou a filiação de Daniel para ser candidato a prefeito nas eleições de 2020. Porém, no começo de março, ainda não havia a crise do coronavírus instalada no país (apenas alguns casos aqui e outros acolá). Mas, em meados do mês passado, o problema ganhou volume, culminando com a chegada da pandemia em definitivo na região, no final de março.
Para ser candidato a prefeito, Daniel precisaria pedir exoneração do cargo de secretário faltando quatro meses para a eleição – lá no começo de junho. Qualquer um que esteja acompanhando par e passo as informações do Covid-19, sabe que o pior ainda está por vir e que os casos irão crescer muito nos próximos 60 dias. Como, então, Daniel poderia pedir exoneração em um momento desse, ainda mais para disputar eleição? Seu projeto seria natimorto.
Para não ficar tão feio, Daniel teria que ser exonerado. Da mesma forma, isso também prejudicaria o pretenso candidato, pois, como o prefeito iria justificar exonerar o principal secretário numa crise de saúde por mero projeto político?
Uma ‘exoneração por atacado’ cairia muito bem para disfarçar isso e com desculpa de estar fazendo corte de gastos. Com o desligamento de todos os secretários e mais de uma centena de comissionados, é certo que o prefeito precisará nomear outros para seus lugares – ainda que não preencha todos os cargos por motivo de economia. Mas a pasta de Saúde precisará ser reposta.
Assim, se Ramon nomear outro secretário de Saúde que não seja Daniel, este não terá pedido exoneração no momento da maior crise de saúde da história. Ou seja, ele foi exonerado em um “pacotão”. Estará livre e com uma desculpa plausível para não ser criticado por abandono do cargo num momento crítico.
Além disso, as futuras nomeações de secretários poderão ser negociadas com aqueles partidos que vierem a apoiar o projeto – mais uma vez, beneficiando Daniel.
Já que o silêncio impera na prefeitura, restará esperar para saber quais serão os próximos passos de Ramon e se Daniel irá aproveitar essa tesourada para submergir agora e retornar depois com um sorriso meio sem graça para a campanha eleitoral.