A transmissão da sessão da Câmara que aprovou o prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) teve um grande vencedor na TV: o SBT. Criticada por ignorar o grande fato político do ano, a rede de Silvio Santos cresceu no Ibope e tomou a vice-liderança que a Record detém aos domingos. Não deu um único flash da votação, mas, com o Programa Silvio Santos, chegou a picos de 15 pontos, quase o triplo da Record, que, desacostumada a grandes coberturas políticas, teve que lutar pela terceira posição com a Band. Perdidos, seus âncoras em Brasília foram salvos pelo WhattsApp.
O impeachment só rendeu audiência no final, quando foi aprovado. A Globo registrou os mesmos pontos que teria com sua programação normal. Só disparou depois das 23h. Às 22h25, por exemplo, tinha 19,6 pontos, contra 13,5 do SBT, 5,4 da Band, 5,3 da Record e 3,2 da RedeTV!. Às 23h10, quando o impeachment já estava aprovado, a Globo saltou para 33 pontos e a Record encostou no SBT (8,3 a 8,4). A Globo teve pico de 37 às 23h11, coisa de novela das nove. Os dados, da Grande São Paulo, são preliminares.
A Record foi a rede que mais perdeu. Quando o plantão do jornalismo entrou no ar, às 14h, tinha 12 pontos no Ibope. Em minutos, caiu para 8. Permitiu que o programa de Eliana desse picos de 14 pontos e fosse vice pela primeira vez em meses.
Globo calada
A Globo derrubou sua programação vespertina e noturna e operou no automático, com imagens da TV Câmara _a TV pública até mudou seu logotipo do lado direito para o esquerdo, porque a rede líder o tapava com a tarja “Restam votar…”. Durante mais de quatro horas, nenhum profissional da emissora deu um único pio no ar. William Bonner se calou às 17h46, quando começou a votação, e só surgiu, em off, às 22h11, para informar que faltavam 35 votos para o impeachment ser aprovado. A Globo deixou Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tocar o show no lugar do Domingão do Faustão e do Fantástico, diferentemente da Record, em que Adriana Araújo o tempo todo repetia informações, como o voto que determinado deputado tinha acabado de proferir.
O silêncio acabou sendo providencial. Livrou Bonner do constrangimento de ter que dizer alguma coisa ao final do voto do deputado Cabo Daciolo, do PT do B do Rio de Janeiro que jogou praga divina na emissora, profetizando sua queda. “Vocês podem ser grandes, mas perante Deus são pequeninos”, disse o parlamentar, que confundiu o público ao votar no “sim”.
Bonner começou a trabalhar cedo. Às 9h21, já estava no ar, de gravata azul, como os primeiros flashes. Não havia quase nada a informar, apenas que Dilma Rousseff deu suas pedaladas (numa bicicleta, não no Orçamento). Após o final do reality show SuperStar, comandou um giro de repórteres e de comentários com Alexandre Garcia e Heraldo Pereira até o início da votação, quando se calou. Hostilizados nas últimas manifestações, os repórteres apareceram escondidos em sacadas de prédios.
O apresentador do Jornal Nacional se esforçou em demonstrar neutralidade. E foi didático, explicando os trâmites da votação e do processo de impeachment. Com Garcia e Pereira, explicou o que diferenciava o impeachment de Dilma do de Fernando Collor de Mello: 24 anos atrás, não havia redes sociais nem manifestações favoráveis ao presidente (Collor estava sozinho). Alexandre Garcia, que se emocionou com o impeachment de Collor, disse perceber uma maior politização hoje. Titio Bonner atropelou os colegas várias vezes, os interrompendo, e, em momento de descontração, revelou que é mais velho do que Heraldo Pereira.