Biólogos sul-africanos estão às voltas com um assassino serial. Ou melhor: dois. Nas últimas semanas, especialistas do Dyer Island Conservation Trust, entidade com base na província de Western Cape, foram acionados quatro vezes para inspecionar carcaças de tubarões-brancos que apareceram em praias da região.
Todas apresentavam a mesma característica: tinham sido basicamente dissecadas para a remoção do fígado, com precisão quase cirúrgica – algumas tinham perdido coração, estômago e mesmo testículos.
O mistério aqui não é exatamente a identidade dos autores do “crime”. Afinal, os biólogos sabem que os tubarões foram atacados por orcas e este tipo incidente já foi registrado antes. Mas chamou a atenção o fato de os animais terem se aventurado contra a espécie que está no topo da cadeia alimentar em Dyer Island.
E mais: os “criminosos” em questão sequer se deram ao trabalho de deixar a cena do crime. “Vimos uma dupla de orcas que acreditamos ser as responsáveis pelas mortes em duas ocasiões. Em ambas, os tubarões-brancos pareceram ter deixado a área”, afirma Alison Towner, biólogo do Dyer Island Conservation Trust, especializado nesta espécie de tubarão.
Os cientistas também ficaram intrigados com a maneira seletiva com que os cetáceos atacaram a presa: em casos antes registrados, os animais também atacavam a carne do animal.
A seletividade também não é tão incomum: quando caçam baleias, orcas muitas vezes matam filhotes e comem apenas a língua. Uma possível explicação é que alguns órgãos têm concentrações maiores de nutrientes e fornecem, assim, bem mais energia do que o resto da carne – ou seja, esse tipo de alimentação seletiva seria uma forma de conservação de energia.
“O fígado de tubarões-brancos contém o nutriente esqualeno, mas não sabemos se as orcas comeram os outros órgãos ou se eles simplesmente vieram junto com o fígado no ataque”, admite a bióloga.
Por enquanto, o que se sabe é que as orcas conseguiram afetar até a indústria do turismo em Western Cape. Empresas que promovem passeios de observação de tubarões relatam que diversas viagens terminaram sem que um único animal fosse avistado.