O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD), teria sido procurado pelo então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em meados de 2015, para ajudar em uma estratégia da presidente Dilma Rousseff (PT) para tentar “barrar” a Operação Lava Jato. A suposta investida de Dilma sobre Colombo consta da deleção premiada do senador Delcídio do Amaral, homologada nesta terça-feira, pelo ministro Teori Zavaski, do Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, a proposta do governo federal não teria surtido resultado.
A citação a Colombo se desenrola na página 112 do termo colaboração de Delcídio. O senador afirma que, em meio à evolução das investigações da Polícia Federal (com a prisão de empresários e empreiteiros parceiros do governo), Dilma e Cardozo teriam traçado um plano para favorecer os aliados que estavam presos sob ordem do juiz federal Sérgio Moro. O intuito da presidente da República era conseguir Habeas Corpus (mandado de soltura) para os investigados, no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Atesta Delcídio que José Eduardo Cardozo estava preocupado e entendeu que uma das alterativas seria focar no STJ e nomear um ministro para auxiliar na solução da questão. Naquela oportunidade, havia vagas a serem preenchidas no STJ e se pensou, inicialmente, em nomear o então presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) Nelson Schaefer para uma destas vagas. Foi então que Rousseff e Cardozo resolveram procurar Colombo.
A trama da cúpula do Governo Federal investiria sobre outro catarinense, o desembargador Newton Trisotto – que em 2015 esteve como ministro convocado no STJ e atuou como relator da Operação Lava Jato naquele tribunal. Cardozo teria reclamado a Delcídio sobre a “demora” de Trisotto em analisar os pedidos de soltura dos investigados. A proposta, segundo o senador, era de que Trisotto “aliviasse a mão” em troca de Santa Catarina ganhar mais um ministro do STJ, com Dilma nomeando Schaefer.
“O que se buscava era algo de maior amplitude no âmbito da Lava Jato, embora se buscasse, de maneira imediata e emergencial, era liberar as pessoas que estavam presas; que não era apenas um “abafa” imediato, mas algo de “maior amplitude e profundidade” que pudesse “mitigar os efeitos da Operação Lava Jato” e não apenas liberar esta ou aquela pessoa; que não era apenas liberar as pessoas presas, mas algo mais estudado e embasado”, teria dito Delcídio ao MPF.
No entanto, o tiro teria saído pela culatra. Em julho de 2015, Cardozo esteve em Florianópolis participando de um seminário. Naquela ocasião, teria ocorrido a investida sobre Colombo, com a proposta de Santa Catarina ter mais um ministro do STJ.
“Mas as coisas não andaram e a estratégia se mostrou absolutamente equivocada e desastrada, porque o governador Colombo não se dava bem com o grupo de Trisotto; que, ademais, Trisotto é uma pessoa muito séria e correta; que, assim, esta segunda investida do Planalto não deu certo”, diz a delação do senador.
A partir desse revés, Dilma e Cardozo teriam focado em Pernambuco, nomeando o desembargador do TJ daquele Estado, Marcelo Navarro, para o cargo de ministro do STJ.
Veja a citação do caso nas páginas 112 e 113 da delação, clicando aqui:
Colombo nega conversa
Raimundo Colombo, por meio da assessoria de comunicação do governo, nega que tenha conversado com Cardozo sobre o conteúdo relatado por Delcídio.
Em razão de ter sido citado na delação do senador Delcídio Amaral, o governador Raimundo Colombo afirma que o então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, “nunca me pediu para que intermediasse ou fizesse qualquer contato com o Judiciário.”