Sobre a greve do transporte público é evidente e inegável o transtorno que ela traz à população. A lida diária que já é desgastante, torna-se ainda mais estressante com a paralisação. Mas é importante não perder o norte nestes momentos. Enquanto as grandes mídias se concentram em condenar os trabalhadores que lutam por seus direitos, tirando propositalmente do foco os verdadeiros causadores da greve, se torna fundamental lembrar de fatos recentes.
Primeiro o desastre que foi a última licitação do transporte público de Florianópolis, em 2014. Naquele ano a mudança foi para não mudar: vencedor por WO, o Consórcio Fênix, que reúne todas as grandes empresas de ônibus historicamente conhecidas pela população, emplacou sua “planilha de lucros” por mais 20 anos sobre toda a população da grande Florianópolis. Vale lembrar que em poucos meses depois o consórcio já seria multado pelo PROCON por descumprir termos da licitação.
De lá para cá a tarifa foi reajustada consideravelmente pelo prefeito Cesar Souza Júnior (PSD), com destaque para dezembro de 2015, onde o reajuste geral foi de 11,94% acima da inflação. Ora, se o valor da tarifa pode ser reajustado acima da inflação, porque o reajuste salarial dos trabalhadores não pode?! No fim, o ônibus caro e de péssima qualidade que nós já pegamos, ficou ainda mais caro e com a péssima qualidade de sempre. Nada de novo. Além de lucrar em cima da tarifa, o Consórcio Fênix ainda ganha dinheiro todo mês através do repasse de subsídios da Prefeitura Municipal de Florianópolis, que já chegou a R$ 0,42 por passageiro (somando R$ 1.886.810,52 por mês).
Não fosse isso bastante, as mesmas cinco empresas (mais a Sulcatarinense) são donos da COTISA, o consórcio que administra os terminais de ônibus da cidade. Para usar os terminais, as empresas pagam para a COTISA (ou seja, para elas mesmas), fazendo com que a tarifa fique mais cara por isso. O caso é tão absurdo que uma auditoria do Tribuna de Contas do Estado revelou em 2014 que o fluxo de caixa da COTISA opera com saldo positivo e que as taxas pagas eram abusivas.
No fim, não tem como saber de tudo isso e ainda se voltar contra os trabalhadores que pedem ajustes salariais dignos. Nossa revolta tem que ser contra a intransigência dos donos do transporte coletivo da Grande Florianópolis, que faltam com informação e transparência sobre um direito garantido a toda a população. Nossa região está sufocada com este modelo de cidade feito para os carros. Por mais investimentos no coletivo, transporte marítimo, nas bicicletas, nos trabalhadores e nos usuários. Greve é para vencer!
*Murilo Azevedo, 29 anos, é professor, graduado em Psicologia, mestrando em Educação na Universidad de la Empresa (Uruguai), foi presidente da Liga dos Gincaneiros de Biguaçu (2011-2012), atualmente presidente do PSOL de Biguaçu e membro do Conselho Municipal do Meio Ambiente de Biguaçu (CONDEMA), representando a APREMABI.