Levantamento obtido pelo G1 com o Ministério do Trabalho mostra que, de janeiro a junho deste ano, o saldo positivo de vagas formais está se restringindo às faixas etárias até 24 anos. Em outro levantamento, em relação à faixa salarial, o saldo positivo de vagas formais está se restringindo a quem ganha até um salário mínimo.
Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), nos seis primeiros meses do ano, um total de 531.765 vagas foi fechado. Apenas no mês de junho, as demissões superaram as contratações em 91.032 vagas formais.
Mas dentro das faixas salariais de até 24 anos, foram criadas 186.528 vagas. Na faixa até os 17 foram 100.672 vagas geradas, e na dos 18 aos 24, foram 85.856 postos de trabalho.
Já as faixas etárias que mais fecharam vagas em 2014 foram dos 30 aos 39 anos e dos 50 aos 64 anos. Em ambas, o total de vagas fechadas foi de 420.505 vagas.
Razões
De acordo com Claudio Dedecca, professor titular do Instituto de Economia da Unicamp e especialista em mercado de trabalho, os mais jovens têm maior dificuldade de conseguir emprego, mas quando eles entram no mercado de trabalho têm menos tendência a serem demitidos. “São mais jovens, ganham menos, e a perspectiva de emprego é mais longa para eles”, diz.
Para Anselmo Santos, professor do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho do Instituto de Economia da Unicamp, isso é sinal de deterioração do mercado de trabalho. “O grosso da faixa etária disponível no mercado de trabalho é jovem. É ali que as empresas encontram pessoas para pagar menos”, diz.
“O que esse dado mostra é que os jovens estão ocupando o lugar de pessoas mais velhas, porque o Caged não pega quem está procurando emprego, e sim apenas o estoque de empregos formais”, ressalta Santos.
Dedecca enfatiza que o aumento do desemprego afeta mais os jovens que a população de maior idade. “O resultado do Caged parece ser contraditório com os dados de desemprego de outras pesquisas, que aponta a dificuldade de os jovens trabalharem”, diz.
Por isso, Santos afirma que os números não refletem a real situação do mercado de trabalho, pois não mostra a população jovem que está procurando trabalho e é uma das que mais está sofrendo para conseguir recolocação. “Só pega o fluxo de quem está entrando e saindo, tem que analisar quem está saindo e quem está entrando”, afirma.
Santos explica que os jovens têm pouca experiência e pouca qualificação. Como o desemprego aumentou muito, há muitos jovens desempregados e a taxa de atividade dos jovens subiu. Tem menos ofertas de vagas e mais jovens demandando emprego. “Hoje por exemplo com muitos jovens disponíveis o empregador demite gente todo dia. E ele vai contratar nesse segmento com grau de escolaridade de nível médio completo ou superior incompleto e pagar salário mais baixo”, comenta.
“É lógico que para o jovem vai aparecer saldo positivo. O mercado tem mais jovens. Com esse desemprego enorme, eles aceitam emprego com salário mais baixo. E a empresa tem tendência a demitir salários mais altos e promover salários mais baixos, para reduzir as folhas de pagamento. Por isso os salários estão caindo – na região metropolitana de São Paulo a queda real no salário chegou a 5%”, completa.
Santos salienta que, ainda que haja saldo positivo entre os jovens, isso não mostra melhora do emprego porque o saldo geral é negativo. “Esse saldo positivo entre os jovens não deixa de mostrar a deterioração do mercado de trabalho, porque revela redução de custos e de salário. Se fosse por outro motivo teria crescido entre as faixas etárias dos 25 aos 49 anos, que são os segmentos mais qualificados. O movimento de melhoria não vem pelos jovens”, afirma.