*Oliver Kühn
Nunca antes na história dos Estados Unidos houve tantos bilionários reunidos num gabinete ministerial. O próprio futuro presidente americano, Donald Trump, com sua fortuna estimada pela Forbes em aproximadamente 3,7 bilhões de dólares, sequer chega a ser o mais rico do governo que deve controlar o destino do país a partir de 20 de janeiro de 2017.
À frente do Ministério da Educação deverá estar Betsy DeVos, cuja fortuna familiar alcança 5,1 bilhões de dólares; o futuro ministro da Economia, Wilbur Ross, possui 2,9 bilhões de dólares, seu vice, Todd Ricketts, é igualmente bilionário. E também a família da futura ministra dos Transportes, Elaine Chao, possui bilhões de dólares.
Caso Harold Hamm se torne mesmo ministro da Energia, mais 15 bilhões de dólares se juntariam ao grupo. Steve Mnuchin, banqueiro da Goldman Sachs escolhido por Trump como ministro das Finanças, parece comparativamente pobre, com seus 40 milhões de dólares.
Riqueza não é algo condenável – certamente não no sistema político americano, onde a campanha para uma cadeira no Senado custa vários milhões de dólares. Com essas indicações, contudo, Trump atrai um grande problema: sua credibilidade.
Durante os meses de campanha eleitoral ele prometeu a seus seguidores que, caso eleito, iria secar o pântano em Washington. Essa promessa populista lhe deu a maioria dos votos das classes brancas menos favorecidas. Até mesmo para alguns democratas, ele se tornou interessante com tais promessas, que o colocavam na mesma linha que Bernie Sanders, que se classifica como um socialista.
Mas precisamente para esse eleitorado deve ser difícil compreender os candidatos ao gabinete de Trump – todos eles pertencentes à classe mais alta da Costa Leste americana, cuja supremacia Trump prometeu encerrar. Assim, não é de admirar que especialmente os democratas castiguem o presidente eleito, lembrando-o de suas promessas eleitorais, agora, antes mesmo de ele tomar posse.
Trump e seus defensores tentam rebater, alegando tratar-se, quase exclusivamente, de gente estranha à classe política e, portanto, com uma visão melhor do que deve ser mudado na capital. Além disso, por causa de sua riqueza, eles não correriam risco de ser venais, já tendo provado, através da aquisição da fortuna, que são “vencedores”.
Entretanto é de se duvidar que tal gabinete de bilionários e milionários saiba como os americanos de classe média estão vivendo. Embora já tenha sido anunciada uma redução do imposto de renda que beneficiará a classe média trabalhadora, os ricos naturalmente também se beneficiam enormemente.
Caso nos próximos anos impere uma política que alivia os ricos, sem que as classes média e baixa sintam melhorias, crescerá a massa de desapontados e furiosos, cujos sentimentos Trump soube usar tão brilhantemente durante a campanha eleitoral. Além disso, seria uma vitória do capitalismo sobre a democracia.
*Oliver Kühn é jornalista do diário “Frankfurter Allgemeine Zeitung”