No início de junho (entre os dias 3 e 5), esteve em cartaz no Teatro Carmem Fossari, em Florianópolis, o espetáculo “O círculo de giz caucasiano”, do Grupo de Pesquisa Teatro Novo (GPTN), e realizado pelo Departamento Artístico Cultural (DAC) e da Secretaria de Cultura e Arte (Secart) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
A peça é uma adaptação da obra homônima do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, e foi escrita durante o exílio do autor nos EUA, no final da 2ª Guerra Mundial, em 1944. O relato se passa nos anos finais da grande guerra, narra a história de duas comunidades que têm suas terras devastadas pelo exército nazista e apresenta temas universais e críticas sociais atuais, como a disputa por terras.
No espetáculo, entre atores e personagens, figurinos e encenações, uma gancheira emprestou sua magia e talento à interpretação de três personagens distintas: uma criada, a vovozinha e a advogada. É Antonieta Mercês da Silva, que aos 73 anos se dedica à paixão pelo teatro.
Embora sejam personagens distintos, a tarefa tripla de atuação não foi um desafio para essa mulher que se formou em literatura aos 60 anos, virou escritora e, mais tarde, atriz.
Sobre sua participação no espetáculo, a atriz diz ser um sonho estar na dramaturgia. “Essa atuação ajuda a me manter ativa e revigorada, além de dar continuidade a minha carreira dedicada à educação”, conta.
Acompanhe um pouco da trajetória dessa gancheira.
ANTONIETA MERCÊS, UMA GANCHEIRA DAS LETRAS AOS PALCOS
Antonieta Mercês da Silva nasceu no Bairro Canto dos Ganchos, em Governador Celso Ramos. É viúva, mãe de quatro filhos, tem dois netos e uma bisneta.
Foi diretora de Cultura da Prefeitura Municipal de Governador Celso Ramos e ajudou a estruturar projetos de teatro para os moradores no município e a trazer ao município, em 2007, a 14ª Açor – Festa da Cultura Açoriana de Santa Catarina.
Formou-se, em 2008, em Letras Língua Portuguesa pela UFSC, aos 60 anos, após o falecimento do marido. Depois da academia, atuou como professora do ensino fundamental da rede estadual e participou do Conselho do Núcleo de Estudos Açorianos (NEA) e do Núcleo de Estudos de Poéticas Musicais e Vocais (NEPOM) da UFSC.
É nesse período que voltou sua criatividade para a literatura. Desde então, Antonieta escreveu oito livros, obras de gêneros como literatura infantil e romances regionais, muitos dos quais narram a vida do pescador gancheiro.
A vida da gancheira nos palcos começou em 2009, quando, por influência do filho, ingressou em aulas de teatro da UFSC.
Anos mais tarde, residindo em São Paulo, entre 2015 e 2021, fez oficinas, apresentações e estudos teatrais. Nesse período esteve nas telas em curta metragens, peças publicitárias e até participou de um quadro do programa Domingo Show, da emissora Record.
Em 2019, retorna a Santa Catarina para residir em Florianópolis, mas dá uma pausa nos projetos durante a pandemia de Covid-19, entre 2020 e 2021.
Com a ampliação da vacinação na população, e já imunizada, retorna aos palcos em 2022. Nessa época recebe o convite para participar do “O círculo de giz Caucasiano”, peça montada como uma homenagem à diretora Carmen Fossari, que estava preparando essa apresentação, e faz sua estreia no espetáculo.
Em relação aos seus próximos projetos, a escritora e atriz Antonieta Mercês da Silva planeja continuar nos palcos, publicar um livro de poesias, sua biografia e mais livros para as crianças. Enquanto isso, retorna ao Bairro Canto dos Ganchos para visitar a família e as origens.