A Arábia Saudita, maior comprador de frango do Brasil, barrou a importação de carne de aves de cinco frigoríficos do país, afirma a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Segundo informação da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), duas plantas de abate barradas estão em Santa Catarina.
Conforme Amr Moussa, ex-secretário-geral da Liga Árabe – formada por
22 países daquela região -, o descredenciamento de plantas de abate é consequência da decisão de transferir a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém. Seria um recado em forma de “retaliação” ao governo Jair Bolsonaro (PSL), depois que o presidente confirmou que mudará a estrutura diplomática de Tel Aviv. A liga árabe com é contra essa alteração, pois significaria reconhecer Jerusalém como a capital israelense – o Estado Palestino também reivindica a cidade como capital.
“Os árabes estão enfurecidos com o governo brasileiro”, comentou Moussa, nesta terça-feira, em Davos, durante o Fórum Econômico Mundial. “Eu acredito que tais medidas [retaliação econômica aos produtos brasileiros] irão aumentar nos próximos dias. A única forma de terminar isso é o Brasil desistir dessa ideia de transferir a embaixada”, afirmou o diplomata árabe.
Segundo a ABPA, o governo foi comunicado da medida na última segunda-feira (21), mas não foi detalhado o motivo da suspensão. Em comunicado divulgado na tarde desta terça (22), a associação afirmou que ela foi causada por “critérios técnicos”. A ABPA informou ainda que “planos de ação corretiva estão em implementação para a retomada das autorizações.”
Ainda de acordo com a associação, entre os frigoríficos com exportações barradas estão um da JBS e um da BRF, que atuam fortemente no setor. O presidente da ABPA, Francisco Turra, disse ao G1 que ainda não tinha a lista completa das unidades suspensas porque não tinha recebido o comunicado dos países árabes. Por conta disso, ele afirmou que também não é possível mensurar o impacto da suspensão na exportação de frango para a região. “Pode ser que eles passem a comprar mais de outros frigoríficos”, disse.
Segundo a ABPA, de 58 frigoríficos habilitados, 33 frigoríficos não têm permissão para exportar para aquela região, incluindo os cinco suspensos na segunda. “Nem todos [os habilitados] estavam exportando para lá”, observou Turra.
O presidente da associação afirmou ainda que, no mesmo comunicado enviado ao governo, a Arábia Saudita deixa aberta a possibilidade de que frigoríficos não-habilitados peçam esse aval às autoridades brasileiras.
Frango halal
Em 2018, o Brasil enviou para a Arábia Saudita 486,4 mil toneladas de carne de frango, o equivalente a 12,1% do total embarcado no ano.
A carne comprada pelo país segue os princípios do Islã tanto no abate, quanto na produção e é chamada de halal. Para produzir esse tipo de carne, empresas brasileiras tiveram que adaptar suas fábricas e efetivo. Os animais devem ser mortos com o peito direcionado para a Meca e os sangradores têm que ser muçulmanos praticantes, por exemplo. O Brasil é o maior exportador de frango halal do mundo.
Veja os maiores importadores de carne de frango brasileira em 2018:
País | Quantidade exportada em 2018 | Participação no total | |
1 | Arábia Saudita | 486,4 mil toneladas | 12,1% |
2 | China | 438 mil toneladas | 10,9% |
3 | Japão | 397,9 mil toneladas | 9,9% |
4 | África do Sul | 331 mil toneladas | 8,2% |
5 | Emirados Árabes | 309,7 mil toneladas | 7,7% |
6 | União Europeia | 263,4 mil toneladas | 6,6% |
7 | Hong Kong | 211,7 mil toneladas | 5,3% |
8 | Kwait | 123,2 mil toneladas | 3,1% |
9 | Coreia do Sul | 113,1 mil toneladas | 2,8% |
10 | México | 111,2 mil toneladas | 2,8% |
Fonte: ABPA
*Com informações do G1 e do Estadão