Flávio Ferreira / Folha de São Paulo
A Polícia Federal iniciou na manhã desta terça-feira (24) a 21ª fase da operação Lava Jato. O pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi preso em um hotel de Brasília.
Bumlai iria depor nesta tarde na CPI do BNDES. O banco contornou uma norma interna que o proíbe de conceder empréstimos a empresas cuja falência tenha sido requerida na Justiça e concedeu crédito de R$ 101,5 milhões ao pecuarista.
Bumlai foi descrito pelo delator da Operação Lava Jato Fernando Soares, o Baiano, como uma espécie de lobista na Sete Brasil, empresa que administra o aluguel de sondas para a Petrobras no pré-sal. Em depoimento, Baiano disse que em 2011 era representante da empresa OSX, de Eike Batista, que tentava obter contratos na Sete Brasil.
Baiano, de acordo com o documento, procurou ajuda de Bumlai porque soube que ele tinha proximidade com o ex-ministro Antonio Palocci.
Na operação Passe Livre estão sendo cumpridos um mandado de prisão preventiva e 25 mandados de busca e apreensão.
O pecuarista, em entrevista ao jornal “O Estado de S.Paulo”, afirmou que levou o presidente da Sete Brasil a um encontro com Lula, mas negou ter providenciado benefícios a parentes dele.
Bumlai também disse que recebeu um repasse de Baiano referente a um empréstimo. Ele também nega ter intermediado o pagamento de uma dívida do PT com o Banco Schahin.
Após a divulgação do caso, Lula afirmou que nunca atuou como intermediário de empresas nem autorizou lobby em seu nome.
NORA DE LULA
Bumlai, que já foi um dos maiores criadores de gado do país, tornou-se alvo das investigações da Lava Jato depois que dois delatores relataram que ele teria repassado recursos para uma nora de Lula e ajudado a quitar dívidas do PT, o que ele nega ter feito.
O balanço da São Fernando Energia em 2011 mostra a empresa em situação dramática. As dívidas da companhia eram 9,5 vezes maiores do que o patrimônio líquido. Seria como um cidadão ter R$ 100 mil em sua conta e, ao mesmo tempo, uma dívida R$ 950 mil.
Após a autorização do BNDES, os R$ 101,5 milhões foram repassados à empresa de Bumlai pelo Banco do Brasil e pelo BTG, que atuaram na operação como agentes intermediários do banco público e assumiram parte dos riscos.
OPERAÇÃO PASSE LIVRE
As diligências estão sendo realizadas nas cidades de São Paulo, Lins (SP), Piracicaba (SP), Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF), Campo Grane (MS) e Dourados (MS).
Seis pessoas também estão sendo procuradas para que sejam levadas à PF para prestar depoimentos.
Segundo a PF, as investigações da nova fase têm como foco a contratação de um navio sonda da Petrobras “com concretos indícios de fraude no procedimento licitatório”.
“Complexas medidas de engenharia financeira foram utilizadas pelos investigados com o objetivo de ocultar a real destinação dos valores indevidos pagos a a agentes públicos e diretores da estatal”, de acordo com a polícia.
Os investigados na nova fase são suspeitos pela prática dos crimes de corrupção passiva e ativa, tráfico de influência, lavagem de dinheiro, fraude a licitação, falsidade ideológica e falsificação de documentos.
Os mandados estão sendo cumpridos por 140 policiais federais e 23 auditores fiscais.