Para acompanhar mais de perto a presença de algas que contaminam ostras e mexilhões no litoral, Santa Catarina intensificou a testagem especialmente nos locais onde os resultados foram negativos. Na semana passada, após constatar a presença toxina paralisante em quatro municípios, a Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca interditou o cultivo de ostras, vieiras, mexilhões e berbigões em todo o litoral do estado.
Segundo o gerente de Aquicultura e Pesca da secretaria, Sérgio Winckler, dependendo dos resultados dos testes, algumas áreas podem ser liberadas para o cultivo ainda nesta semana ou na próxima. Ele explica que os testes, que são realizados normalmente de 15 em 15 dias, foram intensificados e agora são feitos até três vezes por semana. Caso seja constatado que é possível uma produção segura, o estado poderá começar a liberar o cultivo. Já as áreas onde foi constatada a contaminação, não há previsão de liberação.
A interdição se deu pela detecção da presença da toxina paralisante (PSP), que pode causar diarreia, náuseas, vômitos, dores abdominais, perda de sensibilidade nas extremidades do corpo e, em casos severos, paralisia generalizada e óbito por falência respiratória. Os sintomas podem começar aparecer imediatamente ao consumo dos moluscos contaminados. Casos mais graves são mais raros e dependem da quantidade de moluscos consumidos e do grau de contaminação deles.
A toxina é produzida por uma alga e foi detectada em moluscos em Penha, Balneário Camboriú, Governador Celso Ramos e Porto Belo. Como uma medida de segurança, o governo decidiu interditar a produção em todo o litoral até que seja comprovado que não há contaminação. As áreas contaminadas serão testadas novamente em uma semana e precisarão ter pelo menos dois resultados negativos seguidos para que sejam liberadas. Não há uma previsão de quando isso possa acontecer.
“Essa é uma atividade que constantemente sofre esse tipo de impacto. Nosso programa de monitoramento é único no Brasil. Em alguns locais as pessoas consomem moluscos sem saber se estão contaminados. Nós monitoramos para garantir segurança no consumo”, explica Winckler.
Mercado
Winckler disse que as ostras, vieiras, mexilhões e berbigões retirados da água antes da interdição, no último dia 19, podem ser consumidas sem risco. No estado o produto é identificado e é possível saber quando isso ocorreu. Além disso, segundo o gerente, os produtores não perderão o produto, apenas terão que esperar um pouco mais para retirá-los da água, eles vão naturalmente “se purificando”.
De acordo com a secretaria, Santa Catarina é o maior produtor de moluscos do Brasil e segundo maior da América Latina respondendo por cerca de 95% da produção brasileira de mexilhões e ostras. Com 589 produtores espalhados ao longo de 12 municípios costeiros, a atividade gera cerca de 1,5 mil empregos diretos no processo produtivo. Estima-se ainda o envolvimento de mais 5 mil postos de trabalho ao longo de toda a cadeia produtiva, desde a produção de equipamentos e insumos até a distribuição e venda para milhares de consumidores finais.
Segundo a Síntese Informativa da Maricultura, divulgada pelo Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca (Cedap), a produção de moluscos comercializados em 2015 por Santa Catarina foi de 20.438 toneladas. A maior parte da produção, cerca de 85% está concentrada em Florianópolis.
Fenômeno natural
O doutor em aquícultura Carlos Henrique Araujo, técnico do Laboratório de Moluscos Marinhos da Universidade Federal de Santa Catarina, explica que a presença das toxinas é um fenômeno natural, que ocorre em toda a costa brasileira geralmente em quantidades baixíssimas, que não causam nenhum dano.
“Durante a mudança das estações do ano, geralmente há o afloramento de microalgas, que podem ser flageladas e produzir microtoxinas. Para o molusco não fazem mal e para os seres humanos podem vir a fazer mal dependendo muito da quantidade”, explica. O que ocorreu em Santa Catarina e ainda não se sabe exatamente as causas foi um aumento dessa concentração. “O que se pode fazer agora é monitorar e passar segurança aos consumidores”, recomenda.
A presença de PSP em moluscos no litoral de Santa Catarina é relativamente rara, sendo sua primeira detecção ocorrida em 1997.