Na vida real, nem todo o vinho, assim como nem todo o ser humano torna-se amargo com a idade, diz-se que o vinho quanto mais velho melhor, não qualquer vinho, mas aqueles vinhos especiais, cujo amadurecimento adequado permite extrair a quinta essência.
Não são os cabelos brancos, não são as rugas que de repente granjeiam prestígio à fase madura, mas o constante aperfeiçoamento. A vida anterior vivida de modo responsável, porta ao final seus frutos… e, certamente, quem os tiver conseguido não fará como o ator mal ensaiado que fracassa no fim do ato.
Quando, em sua maturidade, Dante Alighieri quis deixar aos vindouros as crónicas das verdadeiras e imaculadas intenções do Templo, fê-lo de forma notável na obra que marcou para sempre a literatura universal: La Divina Commedia.
A sobremesa apresenta pois, doce paladar e a “fase sobremesa” nos remete à ideia de complemento e proporção, harmonizada por uma imagem de festa.
Se perguntarmos a um agricultor, por mais idoso que este seja para quem ele planta, certamente responderá que a grande vida quer que não somente ele receba dos seus antepassados as sementes, mas também que as transmita aos seus pósteros, pelo prazer de andar, amar, renascer, pois o belo da existência é vivê-la e transmiti-la.
Os camponeses, meus vizinhos e meus amigos, estão presentes no campo quando deve ser realizado algum trabalho importante: semear, colher, armazenar e se esforçam em tais atividades, mesmo sabendo que delas não obterão proveito. Plantam árvores que trarão frutos apenas na década seguinte…e não abrem mão dessa doce sobremesa.
Por Alice Schuch, palestrante e pesquisadora do universo feminino