Ao longo do tempo escrevendo sobre a mulher negra pode perceber o quão difícil é para ela falar sobre sua vida passada e atual. O receio também é de sua família, muitas têm uma relação familiar nada fácil, não porque não querem e sim porque a sua família dificilmente aceita a mulher que elas são. Muitos são avessos ao crescimento da mulher.
O medo faz parte do histórico de vida da mulher. Ao falar com muitas mulheres de São Paulo sobre suas vidas a primeira exigência delas para comigo era que tudo fosse relatado no anonimato. Uma porque haviam pessoas da família envolvidas, segundo porque seus amigos e vizinhos saberiam de quem eu estou falando. Terceiro que o julgamento poderia ser maior do que ficar em silêncio e aceitar calada toda a situação. Porque normalmente a mulher é vista como a culpada de tudo.
Quando a história não é com a gente não damos importância a situação do outro. Quantas mulheres sofrem caladas e humilhadas? Quantas mulheres hoje não podem mais falar porque estão mortas? E quantas mulheres hoje se escondem em seus quartos?
A gente sente a proporção de tudo quando vive as mesmas situações. Quando eu ia imaginar na infância que a cor da minha pele iria fazer tanta diferença? Quando eu iria imaginar que de ‘’patinho feio’’ eu iria me sentir a mulher negra tão linda e ser desejada por muitos?
Mas apenas o corpo é desejado e não a mulher por inteiro. Nossa relação com o corpo é um tanto conflitante. Primeiro a relação com o cabelo cercado da ideia de cabelo ruim trazendo para a mulher insegurança e difícil aceitação de quem ela é. Segundo a sua relação com a cor da pele. Terceiro a sua relação com o corpo. Posso dizer que o anonimato de certa forma é para ela a sua segurança. A mulher negra ela quer falar. Ela quer ajudar outras mulheres.
Mas não quer passar novamente pela a não aprovação de familiares e amigos. Claro que muitas preferem o silêncio, pois acham que assim vai esquecer-se de tudo. A dor não será tão profunda. Porém ocorre o risco de isolamento do convívio social e familiar.
*Clarisse da Costa é militante do movimento negro em Biguaçu S/C
Contato: clarissedacosta81@gmail.com