O maior julgamento da história do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) começa nesta quinta-feira (3), às 9 horas, no auditório do Pleno. A 1ª Câmara Criminal do TJSC passa a apreciar a apelação criminal em que 78 dos 80 réus apontados como integrantes de uma organização criminosa recorrem de sentença que os condenou a penas que, somadas, ultrapassam mil anos de reclusão. Para se ter ideia, o processo possui mais de 15 mil páginas distribuídas em 58 volumes, com peso estimado em 50 quilos.
A desembargadora Marli Mosimann, relatora da matéria, conta que precisou destacar duas assessoras para se dedicarem de forma exclusiva aos autos nos últimos seis meses. Ela já requisitou o auditório do Pleno do TJ para realizar a sessão, à qual devem comparecer 27 advogados constituídos, mais defensores públicos nomeados para atuar em nome dos réus que não puderam habilitar profissionais no mercado.
A defesa de cada réu, em tese, tem direito a promover sustentação oral de pelo menos 15 minutos no transcurso da sessão. A desembargadora, que também é presidente da 1ª Câmara Criminal, reservou dois dias consecutivos para o julgamento e espera concluir os trabalhos nesse período, com expectativa de promover rápidos intervalos apenas para alimentação.
Os 78 apelantes – dois condenados abdicaram de recorrer de suas respectivas penas, segundo denúncia do Ministério Público, que sustentou a condenação havida em primeiro grau, integram uma organização criminosa intitulada “Primeiro Grupo Catarinense – PGC”, incrustada no sistema prisional catarinense desde 2003, e responsável por uma série da atentados deflagrados em diversas cidades do Estado entre os anos de 2012 e 2013. Investigações levadas a cabo pela polícia civil identificaram alto poder de articulação da organização, que possui inclusive estatuto e regramentos próprios, com hierarquia peculiar e funções bem definidas e distribuídas entre seus membros.
Há um conselho deliberativo constituído por 20 presos, divididos entre 1º e 2º Ministério. Enquanto o primeiro é composto de membros vitalícios, o segundo é rotativo. Abaixo deles, funcionam os “disciplinas”, subdivididos em áreas específicas de atuação e com competências variadas, entre elas executar ordens dos ministérios em relação aos filiados no campo do rigor. Foi criado ainda o cargo de “sintonia”, responsável pela divulgação das ordens e decisões do conselho. Por fim, na base, estão os membros ou irmãos que, chamados a cumprir ordens superiores, podem ascender na escala da organização por critério de merecimento.
A desembargadora Marli dedicou boa parte deste ano em estudar de forma completa os meandros do PGC. Seu projeto de voto suplantou mil laudas. A preocupação com a segurança já foi externada e um esquema especial foi elaborado pela Casa Militar do Tribunal de Justiça. Ainda que o julgamento seja um ato público, haverá necessidade de identificação para assistir à sessão, com a submissão aos aparelhos detectores de metal.
O efetivo, reforçado, estará dentro e fora da sala de audiência, prontos para agir em qualquer necessidade. Ao concluir o julgamento, de forma colegiada, a desembargadora Marli pensa em promover a doação do acórdão ao acervo do Museu do Judiciário Catarinense. Será, sem dúvida, o maior de todos os julgamentos já feitos em 124 anos de história do TJSC.
A informação é da assessoria de comunicação do TJSC.