O ex-juiz Sérgio Moro anunciou, agora há pouco, em entrevista coletiva, que pediu exoneração do cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública. A saída dele ocorre horas depois de o presidente Jair Bolsonaro exonerar o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Leite Valeixo.
Antes de anunciar a sua saída, ele fez um breve resgate sobre o combinado entre ele e o presidente para que deixasse o cargo de juiz na 13ª Vara Federal, em Curitiba. Falou da confiança em Valeixo – que era o delegado da PF na capital paranaense que negou a soltura do ex-presidente Lula, quando um juiz plantonista concedeu liminar determinando que o petista fosse solto.
Falou sobre detalhes de sua saída da magistratura para assumir o ministério. Lembrou que o próprio Bolsonaro lhe dera “carta branca” para escolher e nomear seus subordinados, como o chefe da PF, da PRF, entre outros cargos. Disse ainda que não pedira isso e que o próprio presidente lhe concedera tal autonomia.
Após relatar atos de sua pasta durante esses quase 16 meses, começou a falar sobre o desgaste que vem sofrendo desde meados de 2019, quando Bolsonaro quis trocar o chefe da PF. Comentou que os diretores da PF e PRF começaram a reclamar sobre interferências da família Bolsonaro em superintendências. Afirmou que discorda de indicações políticas para cargos de chefia.
“Essa semana, o presidente me comunicou que trocaria o diretor-geral da Polícia Federal. Eu disse que não seria contrário, desde que ele falasse o motivo, se seria um falha grave do titular do cargo, ou algo nesse sentido. Mas isso não me foi apresentado. Ainda me falou que trocaria superintendentes da PF no Rio de Janeiro e em Pernambuco. Ontem eu disse ao presidente que isso seria interferência política e ele comentou que seria mesmo“, reclamou Moro.
“Então eu sugeri outro nome para o cargo de diretor-geral da PF, mas não obtive resposta. O presidente tem preferência por alguns nomes, que seria da indicação deles“, continuou.
“O presidente me afirmou que queria um diretor da PF de sua extrema confiança, que lhe informasse sobre as investigações em curso, lhe passasse relatórios sigilosos. Eu discordei, pois isso não é o usual. O diretor-geral da PF não tem que dar explicações sobre investigações ao presidente da República. Então entendi que seria uma grave interferência política“, reclamou Sérgio Moro.
“O presidente também me falou que tem preocupações com investigações em curso na PF autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, o que eu também não entendo. E sobre a exoneração [do Valeixo] feita via Diário Oficial nesta madrugada, eu não assinei nada, eu soube de madrugada e fui surpreendido. Achei que isso foi ofensivo, publicar que a exoneração foi a pedido. Para mim esse último ato foi uma sólida mostra que o presidente não me quer mais no cargo“, explanou Moro.
Após o extenso relato, anunciou, oficialmente, que não é mais o ministro da Justiça e Segurança Pública. “O meu entendimento foi o de que eu não posso aceitar essa substituição. Eu não me senti confortável. Tenho que preservar minha biografia”.