Não há arma mais eficiente do que o voto para acabar com o descompasso entre os anseios da sociedade e as respostas do Congresso.
A “reforma política” aprovada no Congresso só reforça a grande distância entre a população e a classe política. O fundo público de custeio de campanhas políticas é uma afronta ao bom senso. Não é compatível com a realidade do país destinar R$ 1,7 bilhão para as campanhas, enquanto faltam recursos para investimento em áreas prioritárias como saúde, educação e segurança.
Faria bem ao país se o financiamento de campanhas fosse feito por pessoas físicas interessadas em apoiar as ideias dos candidatos. Impor isso a todo cidadão só reforça que a classe política perdeu o respaldo da população.
Condenável também a atitude do Senado e da sua Comissão de Ética de arquivar o processo contra o senador Aécio Neves. É contraditório que não haja qualquer apuração, especialmente num momento em que alguns dos maiores empresários e políticos do país ou estão presos, ou prestando contas à Justiça. No Rio de Janeiro, há dois ex-governadores presos, e os dois últimos presidentes da República, Dilma Rousseff e Lula, respondem a processo judicial. Isso sem falar nas duas denúncias contra Michel Temer, que foram arquivadas após ampla liberação de emendas parlamentares.
Precisamos questionar a escassez de bons exemplos entre os ocupantes das altas esferas de poder. Esse vácuo agrava a crise, perpetua um temerário estado de ressentimento social, dificulta a busca por soluções e ajuda a difundir os efeitos deseducativos da corrupção.
É simbólico um vídeo recente: ladrões usam referências da política atual enquanto assaltam um cofre. Orgulhosos, eles se comparam ao ex-ministro Geddel Vieira Lima. Citam o presidente Michel Temer e o ex-presidente Lula. Eis a situação: setores da política, fundamentais para o funcionamento das instituições, figuram como inspiração manifesta de feitos desse calibre.
O fato é que a sociedade tem em suas mãos a possibilidade de mudar, em curto prazo, o cenário político. A pouco menos de um ano das eleições, não é momento para cansaço do debate político.
*Advogado e presidente nacional da OAB